Por: Conceição Oliveira, no twitter: @maria_fro

Show de horrores

Há três semanas tento digerir um verdadeiro show de horrores noticiado. Os detalhes sórdidos de mais um feminicídio anunciado, o de Eliza Samúdio, tomou a mídia grande, a blogosfera e até os sites pornôs. O principal suspeito é Bruno, ex-goleiro do Flamengo e possível pai do filho da vítima, que ao que tudo indica foi seqüestrada, torturada, morta e teve partes de seu corpo dadas aos cães. A barbárie se esmerou nos textos jornalísticos e nos comentários que voltaremos a discutir ao longo deste longo texto. Tomem fôlego.

Houve também o caso de estupro de uma adolescente, praticado por mais três adolescentes em Santa Catarina. O crime primeiramente foi denunciado por um blog local, o Tijoladas, e com bastante atraso chegou à grande mídia. O estupro ocorreu na casa de um dos adolescentes agressores que é membro da família de um dos principais donos da RBS (a maior empresa de mídia do Sul do país). O outro é filho de um delegado. Segundo relatos no referido blog, com requintes exibicionistas um dos adolescentes estupradores postou em redes sociais mensagens informando que estuprou a menina. Ao ser questionado se não tinha medo de ser punido, respondeu com desdém: ‘Tá de zoeira?’.

Nesse caso, que chegou a TV Record por Paulo Henrique Amorim, que se comprometeu a acompanhar de perto o desenrolar do processo,  tivemos o desprazer de ouvir mais um depoimento cínico. No Domingo Espetacular, o delegado da polícia civil que investigava o caso disse que – em relação à adolescente que teve até um controle remoto introduzido em sua vagina – é possível afirmar que houve ‘relação carnal’, mas que não poderia falar em estupro na medida em que ele não estava presente. O delegado ainda insinua que o estupro de uma menina de 13 anos, realizado por três adolescentes violentos e protegidos pelos pais, teria sido na verdade uma relação sexual de comum acordo entre a vítima e os agressores.

Segundo relatos, a mãe do garoto da RBS, após saber o que tinha acontecido, maquiou as escoriações do pescoço da garota (que estava sob efeitos de álcool e possivelmente outras drogas), ligou para os pais da menina para que viessem buscá-la e deu a entender que ela estava em uma ‘festinha’. O comentário do delegado catarinense é da mesma categoria do de Demóstenes Torres (DEM) que, na luta contra as cotas no Senado, afirmou que senhores escravocratas mantinham com mulheres escravizadas relações consensuais.

Uma semana depois das declarações na tevê, o delegado foi exonerado do cargo e o presidente da Associação dos Delegados de Santa Catarina lamentava o fato. Eu lamento o nível desses delegados.

A misoginia e o sexismo andaram soltos também na verve de cartunista, ‘jornalista’ e ex-presidente. Nani, cartunista da velha guarda do Pasquim, jornal de resistência à ditadura militar, retratou a coligação do PT com o PMDB como prática de prostituição. Desenhou a candidata Dilma Rousseff rodando bolsinha na esquina e pôs na boca dela expressões de prostituta. Curioso que a coligação do PSDB com o DEM não mereceu o mesmo tratamento. Josias de Souza, blogueiro da Folha/UOL, que já havia associado Dilma e Marta Suplicy aos termos ‘vadias’ e ‘vagabundas’, expõe a charge no seu blog, acrescida do título que Nani não deu originalmente: “Candidata de programa!” Nani havia dado o seguinte título: “Programa de Dilma depende dos partidos”. Ambos são lamentáveis, mas Josias se esmerou na detratação.

O que todos esses casos têm em comum? Todos eles estão permeados de sexismo, todos são resultados de como nós mulheres somos vistas numa sociedade que ainda mantém fortes traços de patriarcalismo.

Da Esquerda à Direita os ‘companheiros’ se esmeram no sexismo

Há exemplos a perder de vista de uma linguagem e comportamento chauvinista em nossa sociedade. Para não cansar os leitores com muitos exemplos, recordo apenas alguns casos.

Em março de 2010, para atacar FHC, Ciro Gomes disse que o ex-presidente tinha uma ‘inveja feminil’ de Lula. Não bastou a Ciro qualificar o ex-presidente como uma pessoa invejosa, ciumenta. Para tornar mais ácido seu ataque ao adversário político, ele associou o sentimento de inveja ao sexo feminino. Fez uso de uma idéia fortemente presente no senso comum de que as mulheres são seres ‘invejosos por natureza’. Desse modo, reforçou o preconceito e atingiu o seu objetivo de desqualificar o adversário, não apenas no campo político, mas também no universo dos machos que dominam o campo da política institucional do Brasil.

Fernando Henrique Cardoso e seus aliados de partido não deixam por menos. É recorrente no discurso do demotucanato que Dilma é ‘sombra’, ‘boneco’, ‘retrovisor’, ‘poste’ de Lula. Enfim, em vários textos e discursos, antes mesmo da largada para a campanha eleitoral, pululam termos que buscam desqualificar a mulher e a política Dilma Rousseff como uma candidata sem méritos próprios.

Em fevereiro de 2010, FHC, em artigo publicado na imprensa nacional, disse que “eleições não se ganham com o retrovisor“, comparando Dilma a um ‘boneco manipulado’ pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Naquele mesmo mês, na tribuna do Senado Tasso Jereissati (PSDB-CE) disse que a petista “é uma liderança falsa, de plástico, de silicone”.

FHC esqueceu a elegância da Sorbonne e até da sociologia de que tanto se orgulha e novamente focou a imagem feminina de Dilma com veios de ironia:

a encenação para a eleição de outubro já está pronta. Como numa fábula, a candidata do governo, bem penteada e rosada, quase uma princesinha nórdica, dirá tudo o que se espera que ela diga, especialmente o que o mercado e os parceiros internacionais querem ouvir”.

O ex-presidente, que nem o PSDB sabe o que fazer com ele, pinta Dilma como uma mulher fútil, que é só aparência, vazia de conteúdo, não é um sujeito histórico, não pensa por si, é facilmente manipulada, mas não pára por aí. Sua misoginia usa também da ironia em relação à idade de Dilma. A candidata do PT é uma mulher que brevemente será avó e, mesmo assim, sua figura é comparada à imagem de uma ‘princesinha’. Os mais ogros, sem os subterfúgios do discurso fhceniano, usam outros termos para se referir às mulheres maduras na política. Eduardo Guimarães fez um texto interessante chamando atenção sobre isso. Quanto ao ‘nórdica’ nem precisamos dizer que seu uso também é proposital: uma forma de destacar a origem étnica e social de Dilma — uma mulher branca, bem educada. O recurso de FHC, aqui, é negativar e descolar a origem social da candidata do PT em contraponto com as origens populares de Lula, na medida em que todo o preconceito social repetido e reproduzido contra Lula, o ‘analfabeto’ não surte mais efeito na maioria da população, diante de um presidente que bateu todos os recordes de popularidade na história do Brasil e que ganhou a projeção e respeito internacional das quais FHC jamais se aproximou.

Marcos Coimbra ao analisar aquele texto de FHC problematiza: se o adversário político dos tucanos na disputa eleitoral pela presidência da República fosse um homem, FHC certamente não se preocuparia com a aparência. Concordo com ele, não vejo na fala das poucas mulheres presentes na política institucional o uso de atributos físicos ou ausência deles para desqualificar seus adversários.  Exemplos como o de Soninha Francine, que desenvolveu um ódio visceral de Marta, são mais raros. As mulheres que ocupam cargos públicos costumam não destratar as demais, desqualificando-se mutuamente, reforçando preconceitos de gênero. Isso me parece ser prática comum aos políticos do sexo masculino.  É saudável, para toda sociedade brasileira, termos candidatas disputando o pleito de 2010 e com condições de vitória.

E quanto ao Nani? O cartunista, após a publicação da charge sexista, chegou a se defender das críticas dos comentaristas de esquerda, lembrando que já tinha retratado Serra e FHC como ‘prostitutas’. A fixação de Nani pelo tema da prostituição como algo condenável e a associação recorrente que o cartunista faz da prostituição à prática política não podem ser usadas como desculpas para falta de humor travestido de preconceito.

Alguns amigos jornalistas de esquerda também demonstraram surpresa com o fato de um cartunista do ex-Pasquim ter sido tão apelativo e preconceituoso. Não me surpreendi. Convivo com muitos amigos de esquerda que têm grande dificuldade de entender o mundo para além da luta de classes. Muitos deles de fato se esforçam cotidianamente para vencer sua cultura machista. Já conseguem enxergar que a dominação masculina sobre as mulheres é estrutural, conseguem perceber a necessidade de se respeitar a construção de outras identidades. Mas abolir de nossas vidas preconceitos é um exercício cotidiano que nem todos estão dispostos.

A turma do Pasquim fez uso do humor, da ironia e irreverência para resistir à ditadura militar, mas seus cartunistas e editores foram bastantes conservadores em relação à emancipação feminina e se opuseram firmemente a toda e qualquer luta das mulheres nesta direção. Às denuncias das feministas brasileiras sobre o caráter estrutural da dominação, expresso nas relações da vida cotidiana, o Pasquim respondia com sarcasmos e zombarias. Como mostra o excelente artigo de Rachel Soihet, “Zombaria como arma antifeminista: instrumento conservador entre libertários”, o jornal que lutava contra o regime de exceção:

“(…) voltou-se, igualmente, contra as mulheres que lutavam por direitos ou que assumiam atitudes consideradas inadequadas ao modelo tradicional de feminilidade e às relações estabelecidas entre os gêneros. Ridicularizavam as militantes, utilizando-se dos rótulos de ‘masculinizadas feias, despeitadas’, quando não de ‘depravadas, promíscuas’, no que conseguiam tais articulistas grande repercussão. Depreende-se dessa conduta o temor da perda do predomínio masculino nas relações de poder entre os gêneros, no que evidenciavam forte conservadorismo, contrastante com a atitude vista como libertária de alguns desses elementos em outras situações.”

Geni insepulta: pré-julgada pelo currículo sexual, viva ou morta

Como disse, passei essas últimas semanas com o estômago embrulhado diante das notícias em portais, blogs, e sites pornôs (sim, fiz questão de visitá-los para ver até onde ia a barbárie sexista). Mas não vou me ater a espetacularização irresponsável da polícia e da imprensa, que anda facilitando a vida da defesa do ex-goleiro Bruno, sendo ou não ele culpado pela morte de sua ex-namorada. A este respeito indico dois bons textos.

O primeiro é do procurador da República, o professor Vladimir Aras, especialista em Direito Criminal, (aqui) que nos lembra que há muita tecnologia para ser usada nas investigações. Ele argumenta que diante do fato dos suspeitos estarem utilizando o direito ao silêncio, o Ministério Público/MG pode, por exemplo, propor acordo de delação premiada ao suspeito certo, pois isso ajudaria a remontar os eventos e localizar o cadáver da vítima ou as provas necessárias para condenar os executantes do crime, mandantes etc. O segundo é o texto do jornalista José Cleves Silva, especialista em investigações de corrupção policial, envolvimento da polícia com tráfico de drogas, armas e assalto a bancos em Minas Gerais. Ele tem larga experiência no contato com a polícia mineira e também foi vítima dessa polícia que não difere muito das dos demais estados: adoram um holofote. Vale a pena ler o seu texto sobre a ação da polícia mineira no caso Bruno, considerando também que o jornalista foi acusado de ter matado sua própria esposa e foi inocentado por unanimidade.

Não foi apenas o espetáculo grotesco da mídia grande impressa e televisiva, que adora as lucrativas notícias de assassinatos brutais envolvendo sexo e celebridades, que causaram espanto a todos aqueles que têm consciência de que vivemos em uma sociedade chauvinista, mas também os comentários grotescos de machistas moralistas e, igualmente, de mulheres que contribuem para disseminar o machismo.

“(…) Se essa maria chuteira não tivesse pegado tanto no pé do Bruno, não teria morrido. Disse a Margarida neste espaço, e foi muito contestada, que se você vê um maremoto sai correndo. Eliza já havia sido ameaçada de morte e, mesmo assim, continuou pegando no pé do Bruno. Ela podia reivindicar seus direitos na Justiça sem ir de Range Rover ao sítio do doidão. Mas, provavelmente, ela era do tipo chiclete.(…) (Trecho de comentário no Viomundo).

Veja e alguns comentaristas do Viomundo – que adoram criticar o jornalismo ‘de esgoto’ daquele semanário — encontraram-se no mesmo sentimento de ignorar o fim trágico de Eliza, culpá-la pela própria morte e lamentar o fato de um ex-favelado, que finalmente ascendeu socialmente, ter jogado o ‘seu futuro’ pela janela, só por causa de uma ‘biscate’. Em todos eles, expressões como: ‘Maria Chuteira’, ‘interesseira’, ‘piranha’, ‘pegajosa’, ‘chiclete”, ‘puta’ etc. se mesclavam e se complementavam.

Mayara Melo fez um excelente texto a respeito deste tratamento ignóbil dado à vítima Eliza Samúdio e teve a paciência de elencar alguns, dissecando-os.

Trouxa, você fez filho pra pegar pensão? Então cala a boca! Puta é isso. Mulher que faz filho pra mamar dinheiro dos outros, seja quem for! Vagabunda se ferrou!” ou “Estou triste pelo jovem Bruno, um homem realizado na vida profissional e financeira e acabar tudo por causa de um envolvimento com mulher de programa, filho é feito em mulher decente e de honra que isso sirva de exemplo para os homens”.

Ainda há aqueles que disparam, sob moderado pudor: “Era uma aproveitadora, mas ninguém tem o direito de tirar a vida de outra pessoa, por pior que ela seja.”

Wladimir Aras definiu com precisão a condenação pública da vítima:  “Eliza Samudio é uma Geni insepulta. Provavelmente está morta. Mas continua apanhando!”

Nem sua morte foi capaz de calar seus detratores moralistas. Eliza, ainda grávida, foi seqüestrada, sofreu agressões físicas, foi obrigada a tomar substâncias abortivas e quando pediu socorro ao Estado, porque sua integridade física e a do seu filho foram ameaçadas, não obteve proteção garantida pela Lei 11.340/06 (Lei Maria da Penha), porque uma juíza conservadora julgou moralmente a mulher Eliza e ignorou o art. 5º, inciso III:

“Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.” (Fonte: Wladimir Aras).

Como este texto pode ter sido interpretado de outra maneira no caso de Eliza Samúdio? O preconceito incrustado na mente de nossos juízes pode explicar a decisão. Eliza foi pré-julgada pelo seu currículo sexual, condenado moralmente: seu comportamento tornou-a uma pessoa cuja vida vale menos que a das demais.

Para que pudéssemos refletir e agir sobre uma doença social que torna as mulheres vítimas da violência de seus companheiros ou ex-companheiros o Estado teria de fazer valer as leis que garantam nossos direitos. Nossa imprensa poderia ajudar fazendo menos bandalheira e recorrendo mais às análises históricas, antropológicas, sociológicas, políticas sobre as causas do sexismo. Mas restou aos leitores conservadores e consumidores de tragédias as reduções psicologizantes e empobrecedoras que pulularam em todos os meios de comunicação.

Ao abordar este feminicídio Fátima Oliveira fez a crítica a esta abordagem irresponsável, criticou seus pares e mostrou como o conservadorismo de uma juíza que prejulgou a conduta de Eliza, negando-lhe a proteção do Estado, tornou o próprio Estado co-autor de um crime:

(…) é antiético que psicólogos, psiquiatras e psicanalistas se encarapitem na mídia, como papagaios de piratas, chutando que fulano, sicrano ou beltrano é isso ou aquilo outro.

Nem todo homicida é sociopata. Nem todo sociopata mata, mas pode virar assassino se a lei não comparece para punir outros delitos, pois portam personalidades a quem só a lei dá limites (…)

Eterno ser imperfeito, objeto de prazer, consumo ou de pancada de outrem

Seria saudável para todos nós se tragédias anunciadas como a morte de Eliza Samudio ou o estupro da adolescente de 13 anos por outros três adolescentes na casa de um deles, servissem para que Estado e sociedade como um todo refletissem e agissem para diminuir o número escandaloso de mulheres assassinadas ou estupradas por seus companheiros diariamente no Brasil. Teríamos menos Elizas, Mércias, Eloás, Julienes e seus bebês, Marias Islaines, Orestinas

Nossa taxa de feminicídio é bem superior à média de outros países. Segundo o Mapa da Violência no Brasil no período de 1997 a 2007 dez mulheres foram assassinadas por dia, na maioria por seus companheiros atuais ou antigos maridos ou namorados. Segundo Mayra Kubik Mano, a cada quinze segundos uma mulher é espancada no Brasil!

A antropóloga Debora Diniz com muita propriedade argumenta: “A violência não é constitutiva da natureza masculina, mas sim um dispositivo cultural de uma sociedade patriarcal que reduz os corpos das mulheres a objetos de prazer e consumo dos homens.”

Quando temos consciência de que não é natural o desrespeito e, não raro, a violência física, moral, psicológica com que somos tratadas e denunciamos, somos ridicularizadas com o velho e recorrente discurso que nem mesmo os editores e chargistas do Pasquim abriram mão.

De nós é exigido um corpo belo mesmo que não sejamos modelos ou atrizes pornôs. Não basta que, como qualquer ser humano, tomemos banho todos os dias, escovemos os dentes, lavemos as mãos, cortemos as unhas. Tudo em nós é visto e tratado ‘por natureza’ como algo imperfeito que precisa ser arrumado, extraído, modificado: unhas precisam ser ‘feitas’, cabelos precisam ser alisados ou enrolados ou tingidos, os pêlos extraídos das pernas, virilhas, axilas, buço, sobrancelhas, a pele precisa passar por seções torturantes de extração de cravos, manchas; as rugas precisam desaparecer, assim como gorduras, estrias, celulites.

Nosso corpo ainda é coisificado e muitas vezes nos cansamos e nos adequamos. Vivemos, aceitamos e cultuamos a juventude e um determinado padrão de beleza (geralmente branco, magro, loiro e de olhos azuis) e relegamos ao segundo plano todo ser ‘imperfeito’ fora deste padrão. Permitimos que meninas negras com apenas sete anos sejam eletrocutadas no banheiro devido a um  curto circuito em uma maldita chapinha usada para transformar seus cabelos crespos ‘imperfeitos’ em algo ‘apresentavel’.

Fazemos as mulheres depois dos quarenta serem muitas vezes tratadas como ridículas, porque querem recuperar sua juventude a qualquer custo.

Se a mulher exige de nós o direito de envelhecer com dignidade alcunhamos a de ‘tia velha, mal-humorada’. Se tem consciência de que sua experiência sexual permite que todo o seu corpo, com ou sem gordurinhas e celulites, ou alguns fios de cabelo branco, exerça desejos; se ela sabe que nada disso a impossibilita de dar e obter prazer junto ao seu companheiro, também não é valorizada.

Não criamos caprinos, devemos formar homens e mulheres saudáveis

Pré-julgamos mulheres que não seguem as normas impostas pela falocracia, mas consumimos o corpo feminino oferecido em diferentes suportes midiáticos.

Nossos valores tão deturpados permitem que jovens adolescentes tenham, por vezes, seu primeiro contato com a prática sexual expondo seu corpo e da parceira no mundo virtual.

A rede SaferNet, por exemplo busca orientar pais e responsáveis sobre exposição da sexualidade:

Não há nada de errado em falar e discutir sobre sexualidade. O erro é não se proteger e não se informar sobre como manter relações saudáveis dentro e fora do ciberespaço;

Proteja seus direitos sexuais e não facilite agressões;

Pais: dialoguem com seus filhos para conhecer o que fazem online e orientá-los. Os valores e limites de sua família precisam ser discutidos também em relação aos comportamentos online. Converse com seus filhos sobre as noções de privacidade e de comportamento de risco para construir limites como proteção e não como proibição;

Pais e educadores: Saiba que você não precisa ser expert em tecnologia, basta transpor a cidadania também para este novo ciber-espaço público;

SaferNet explica que o sexting, prática na qual adolescentes de 12, 13 anos de idade e jovens usam seus celulares, câmeras fotográficas, emails, chats, comunicadores instantâneos e sites de relacionamento para produzir e enviar fotos e vídeos sensuais de seu corpo nu ou seminu – assim como mensagens eróticas para namorados, pretendentes ou amigos – já se tornou moda entre adolescentes por aqui. Reportagem do Terra Magazine mostra a chegada no Brasil de um concurso no qual adolescentes e jovens gravam suas relações sexuais e postam no youtube. Ganha o que tiver mais acesso. A prática não é incomum entre estudantes de escolas de classe média desde pelo menos meados da década de 1990 quando ainda se usava fita VHS. Com a rede, os vídeos apenas são distribuídos em novos suportes e em nível planetário.

Diante desta exposição e permissividade a velha máxima patriarcalista que reduz nossas crias a caprinos em pastos – ‘segurem suas cabras, pois meu bode está solto’ – adquire novas colorações moralistas, renova-se em outros discursos, mas continua em voga. Reprimimos as meninas, reproduzindo os velhos papéis sociais desde a sua mais tenra infância, desde a escolha dos brinquedos.

Meninos recebem carrinho, bola, é permitido a eles até alguns excessos nas lutas com os amiguinhos. Aos leitores pacientes desde longo texto: faz algum sentido a idéia da violência, da valorização da força física no universo masculino parecer algo da essência dos homens?

Meninas recebem apetrechos de cozinha, bonequinhas para desde cedo adequarem-se a um papel naturalizado às mulheres: donas de casa, mães….

Não nos passa pela cabeça que, em pleno século XXI, as mulheres podem, se assim desejarem, jogar futebol e serem atletas excelentes como a Marta, que faz inveja a muito marmanjo apaixonado por futebol, ou que elas tornem-se exímias e cuidadosas motoristas e tenham, inclusive, descontos nas apólices de seguros de automóveis pelo seu comportamento mais civilizado no trânsito. Mesmo assim, elas continuam ouvindo dos ogros que não se civilizam – e acham que trânsito é praça de guerra: ‘volta para o tanque, Dona Maria!’ Os ogros são incapazes até de atualizarem suas ofensas: a venda de eletrodomésticos bate recorde atrás de recorde no Brasil e até as ‘donas Marias’ já compraram sua máquina de lavar roupas.

Para além de combater uma cultura midiática que estimula crianças e jovens a serem consumistas não apenas de objetos, mas de imagens femininas como produtos de consumo, é urgente que pais e professores revejam o quanto são responsáveis pela reprodução de uma educação sexista. Da mesma forma, é preciso refletir também na construção da identidade masculina, a valorização do macho como ‘provedor’, ‘ pegador’, ‘comedor’, desprovido de afeto.

Vários pesquisadores vêm se dedicando à temática da reprodução de preconceitos e discriminações no âmbito escolar. Marília Pinto de Carvalho, em pesquisa de campo junto a professores dos primeiros anos do Ensino Fundamental, investigando o fracasso escolar de meninos negros nas escolas públicas (grupo que permanece há décadas em primeiro lugar nas estatísticas), aponta-nos, por exemplo, que professoras têm imagens cristalizadas do que seriam comportamentos próprios e/ou adequados aos meninos e meninas, aos negros, aos brancos e aos pobres.  Percepções sobre comportamento de gêneros, pertencimento étnico-racial e origem social interferem na avaliação e expectativa dos professores em relação à disciplina e desempenho escolar das crianças e por, sua vez, na construção de suas identidades.

Dos meninos, as professoras não costumam cobrar capricho nos cadernos e quando se deparam com um caderno limpo, bem cuidado, desenhado, que não pertence a uma menina se surpreendem.  Muitas têm como pressuposto que os problemas de disciplina apresentados por crianças negras, especialmente meninos, estão invariavelmente relacionados ao:

histórico da família desses alunos, alunos que moram em ambientes mais pobres, favelas, estão mais expostos a coisas cruéis, os modelos de adultos que essas crianças têm são pessoas mais rudes” (Depoimento de professora à Marília Carvalho).

Ao longo do trabalho a pesquisadora discutiu com as professoras entrevistadas os resultados parciais da pesquisa. Marília destaca que as professoras eram ‘jovens, comprometidas, sérias em seu trabalho pedagógico’, foram ‘corajosas e perspicazes ao longo de todo o processo’. Mesmo assim, suas avaliações em relação às crianças revelaram-se hierarquizadas:

“Mas se elas não eram abertamente preconceituosas nem discriminadoras, se gostavam de seus alunos e se dedicavam a eles, como suas avaliações revelaram-se tão marcadas por hierarquias de gênero, classe e raça?” (Marília Carvalho).

Precisamos tornar realidade princípios caros aos educadores: educar para autonomia, para o respeito e para a convivência solidária. Isso não pode ser apenas discurso vazio, tem de se tornar prática social. A filósofa Hannah Arendt, refletindo sobre a crise da autoridade, grosso modo, argumenta que toda geração adulta é responsável pela que a sucede. E adultos que abram mão desta tarefa crucial, deveriam também abrir mão de serem pais e professores.

Somos a maioria desempoderada e despolitizada

Nós, mulheres, somos maioria na população brasileira e, entre os cerca de 135 milhões de eleitores aptos a votar, representamos 52% contra 48% dos eleitores do sexo masculino, mesmo assim somos subrepresentadas:

“O balanço de registros em 2008 divulgado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostra que a participação feminina na disputa por cargos eletivos é bem abaixo do percentual masculino. De um total de 375.655 registros de candidaturas para cargos nas prefeituras dos municípios brasileiros (prefeito, vice-prefeito e vereadores), apenas 74.837 (20,96%) eram de mulheres.” (Sandra Cruz, UNE).

Considerando as estatísticas de anos de estudo, as mulheres brancas são as mais educadas, mesmo assim, nem elas estão majoritariamente na política. Sandra Cruz aponta que nos cargos de maior nível hierárquico no parlamento, governos municipais e estaduais, secretarias do primeiro escalão do poder executivo, judiciário, sindicatos e reitorias as mulheres não chegam a 20%. Se além do gênero, consideramos o recorte étnico-racial, seja entre mulheres candidatas ou eleitas, o quadro de subrepresentação é ainda mais grave: as negras estão em minoria e as indígenas praticamente ausentes.

Nosso voto fará a diferença e é preciso que tenhamos muito claro quais as políticas propostas que realmente visam combater o sexismo e outras formas de discriminação.

Estejamos atentas às políticas que possam nos empoderar, que permitam que nossas crianças tenham acesso às creches, a uma boa educação, ao lazer, à cultura, a uma infância digna.

São fundamentais as plataformas políticas que defendam a saúde pública no país, a humanização da medicina e que não se exima de discutir, por exemplo, de modo amplo e democrático a discriminalização do aborto (que, mais uma vez, mata as mais pobres e dentre elas, as mulheres negras, em sua maioria sem recursos para clínicas médicas clandestinas). Também são importantes o papel de representação das mulheres na mídia, as cotas, micro-créditos, renda mínima cuja gestão dos recursos esteja nas mãos das mães de família etc.

Nestas eleições temos duas candidatas do sexo feminino. As duas com trajetórias políticas em partidos de esquerda. Dilma Rousseff, que ainda muito jovem lutou contra a ditadura militar, foi presa e torturada, e Marina Silva, ex-PT, que iniciou sua luta política com os seringueiros da Amazônia. Para além das diferenças partidárias (que na atualidade as opõem), elas têm feito um debate de alto nível. Dilma tem enfrentado uma campanha detratora e sexista, porque está na frente nas pesquisas eleitorais e porque não se exime de debater, por exemplo, a discriminalização do aborto como uma questão de saúde pública. Marina tem mais dificuldade para expressar uma posição objetiva em relação a esse tema devido suas crenças religiosas, mas não nega que seja uma questão de Estado.

Para encerrar, recorro a outro artigo do sociólogo Marcos Coimbra, que questiona uma falácia presente na grande mídia e no senso comum conservador. Trata-se da que afirma que mulheres não votam em mulheres.

Nesse artigo Coimbra discute a preferência do eleitorado a partir do recorte de gênero. O texto é de abril, quando Ciro ainda aparecia nas pesquisas de intenção de voto. Há três meses nas pesquisas eleitorais, Dilma e Marina, em todos os estados, tinham desempenho menor entre as eleitoras do que Serra e Ciro. A diferença, inclusive, entre Dilma e Serra era o voto feminino, já que a preferência do eleitorado masculino entre os dois candidatos era igualmente distribuída.

À época, Coimbra argumentava que um fator crucial para explicar as performances dos candidatos era o nível de conhecimento que os eleitores tinham deles. Ou seja, o fator relevante era a informação. Quando homens e mulheres possuíam nível de informação semelhante essas diferenças desapareciam:

“As pesquisas atuais refletem a distribuição desigual da informação entre os gêneros, que deriva, por sua vez, dos papéis sociais diferentes que homens e mulheres desempenham.” (Marcos Coimbra)

Posso garantir que este é um dado importantíssimo. Sou uma mulher educada, com acesso à informação, ativista, politizada. Mas também sou mãe, filha mais velha com pais idosos, tenho uma atividade profissional que demanda longo tempo de concentração, sou blogueira, twitteira, orkuteira, facebookeira.

Para conseguir fazer tudo isso, conto com ajuda da Ana, mensalista que trabalha em minha casa. Ana está de férias. Nos primeiros dias quase enlouqueci para dar conta de todas as demandas, como este texto que agora entrego a vocês e que foi redigido a conta-gotas entre lavar quintal do cachorro, controlar a máquina batendo roupa, ir às reuniões preparatórias do encontro de blogueiros, fazer almoço para a filha (que pegou na vassoura também)…

Então, mulherada, se vocês realmente acham que não podemos mais ser tratadas como seres eternamente imperfeitos, despolitizados, vadios e saco de pancadas, à luta, olho vivo e ação contínua para educar nossos companheiros e nossos filhos, meninos e meninas, para serem pessoas autônomas, colaborativas, respeitosas, mais livres e felizes.

Homarada, a formação de nossos filhos se concretiza quando o modelo está em sintonia com o discurso. O modo como tratam suas parceiras reflete na forma como seus filhos construirão suas futuras relações. Assim como, para que possamos nos informar e escolher a melhor candidatura que continue transformando positivamente o Brasil, precisamos de tempo livre. Saibam, portanto, que suas meias de futebol não vão sozinhas para a máquina de lavar roupas, sua comida não fica pronta se não for preparada e nem as panelas são auto-limpantes.

Se vocês também desejam que sua mãe, irmã, parceira e/ou filha sejam seres bem informados, politizados e autônomos, que tal sair da frente desta tela, convidá-las a ler este texto e se oferecer para lavar aquela pia de louça suja?

Sexismo emburrece e mata. Repensar os papéis sociais cristalizados para mulheres e homens nos liberta, permite que mudemos nossas atitudes, possibilita-nos fazer escolhas mais conscientes tanto na política quanto na vida.

A saudade do servo na velha diplomacia brasileira

por Leonardo Boff, via Tijolaço (acesso em Viomundo.com, 04 de junho de 2010 às 16h 10 min.)

O filósofo F. Hegel em sua Fenomenologia do Espírito analisou detalhadamente a dialética do senhor e do servo. O senhor se torna tanto mais senhor quanto mais o servo internaliza em si o senhor, o que aprofunda ainda mais seu estado de servo. A mesma dialética identificou Paulo Freire na relação oprimido-opressor em sua clássica obra Pedagogia do oprimido. Com humor comentou Frei Betto: “em cada cabeça de oprimido há uma placa virtual que diz: hospedaria de opressor”. Quer dizer, o opressor hospeda em si oprimido e é exatamente isso que o faz oprimido. A libertação se realiza quando o oprimido extrojeta o opressor e ai começa então uma nova história na qual não haverá mais oprimido e opressor mas o cidadão livre.

Escrevo isso a propósito de nossa imprensa comercial, os grandes jornais do Rio, de São Paulo e de Porto Alegre, com referência à política externa do governo Lula no seu afã de mediar junto com o governo turco um acordo pacífico com o Irã a respeito do enriquecimento de urânio para fins não militares. Ler as opiniões emitidas por estes jornais, seja em editoriais seja por seus articulistas, alguns deles, embaixadores da velha guarda, reféns do tempo da guerra-fria, na lógica de amigo-inimigo é simplesmente estarrecedor. O Globo fala em “suicídio diplomático”(24/05) para referir apenas um título até suave. Bem que poderiam colocar como sub-cabeçalho de seus jornais:”Sucursal do Império” pois sua voz é mais eco da voz do senhor imperial do que a voz do jornalismo que objetivamente informa e honestamente opina. Outros, como o Jornal do Brasil, tem seguido uma linha de objetividade, fornecendo os dados principais para os leitores fazerem sua apreciação.

As opiniões revelam pessoas que têm saudades deste senhor imperial internalizado, de quem se comportam como súcubos. Não admitem que o Brasil de Lula ganhe relevância mundial e se transforme num ator político importante como o repetiu, há pouco, no Brasil, o Secretário Geral da ONU, Ban-Ki-moon. Querem vê-lo no lugar que lhe cabe: na periferia colonial, alinhado ao patrão imperial, qual cão amestrado e vira-lata. Posso imaginar o quanto os donos desses jornais sofrem ao ter que aceitar que o Brasil nunca poderá ser o que gostariam que fosse: um Estado-agregado como é Hawai e Porto-Rico. Como não há jeito, a maneira então de atender à voz do senhor internalizado, é difamar, ridicularizar e desqualificar, de forma até antipatriótica, a iniciativa e a pessoa do Presidente. Este notoriamente é reconhecido, mundo afora, como excepcional interlocutor, com grande habilidade nas negociações e dotado de singular força de convencimento.

O povo brasileiro abomina a subserviência aos poderosos e aprecia, às vezes ingenuamente, os estrangeiros e os outros povos. Sente-se orgulhoso de seu Presidente. Ele é um deles, um sobrevivente da grande tribulação, que as elites, tidas por Darcy Ribeiro como das mais reacionárias do mundo, nunca o aceitaram porque pensam que seu lugar não é na Presidência mas na fábrica produzindo para elas. Mas a história quis que fosse Presidente e que comparecesse como um personagem de grande carisma, unindo em sua pessoa ternura para com os humildes e vigor com o qual sustenta suas posições .

O que estamos assistindo é a contraposição de dois paradigmas de fazer diplomacia: uma velha, imperial, intimidatória, do uso da truculência ideológica, econômica e eventualmente militar, diplomacia inimiga da paz e da vida, que nunca trouxe resultados duradouros. E outra, do século XXI, que se dá conta de que vivemos numa fase nova da história, a história coletiva dos povos que se obrigam a conviver harmoniosamente num pequeno planeta, escasso de recursos e semi-devastado. Para esta nova situação impõe-se a diplomacia do diálogo incansável, da negociação do ganha-ganha, dos acertos para além das diferenças. Lula entendeu esta fase planetária. Fez-se protagonista do novo, daquela estratégia que pode efetivamente evitar a maior praga que jamais existiu: a guerra que só destrói e mata. Agora, ou seguiremos esta nova diplomacia, ou nos entredevoraremos. Ou Hillary ou Lula.

A nossa imprensa comercial é obtusa face a essa nova emergência da história. Por isso abomina a diplomacia de Lula

Leonardo Boff é Teólogo e autor de Nossa ressurreição na morte, Vozes 2007

Em: Vi o Mundo, acesso: 23/05/2010, às 11h e 51min.

Além de violar princípio da presunção da inocência, idéia retoma projeto da ditadura que estabeleceu a cassação dos direitos políticos pela “vida pregressa”. Se pessoas com “ficha suja” não podem se candidatar, por que mesmo poderiam votar? Agora mesmo, sindicalistas do RS e de SP sofrem condenações por protestos contra seus governos. Estão com a “ficha suja”?

por Marco Aurélio Weissheimer, em Carta Maior

O inferno está pavimentado de boas intenções. A frase cai como uma luva para contextualizar o debate sobre os políticos “ficha-suja” e o projeto “ficha-limpa” que ganhou grande apoio no país, à direita e à esquerda. Pouca gente vem se arriscando a navegar na direção contrária e a advertir sobre os riscos e ameaças contidos neste projeto que, em nome da moralização da política, pretende proibir que políticos condenados (em segunda instância) concorram a um mandato eletivo.

A primeira ameaça ronda o artigo 5° da Constituição, que aborda os direitos fundamentais e afirma que “ninguém será condenado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. Professor de Direito Penal na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Túlio Vianna resumiu bem o problema em seu blog:

“Se o tal projeto Ficha Limpa for aprovado, o que vai ter de político sendo processado criminalmente só para ser tornado inelegível…Achei que o art.5º LVII exigisse trânsito em julgado de sentença penal condenatória. Deve ser só na minha Constituição. Se o “ficha-limpa” não fere a presunção de inocência, é pior ainda, pois vão tolher a exigibilidade do cidadão mesmo sendo inocente. Êh argumento jurídico bão: nós continuamos te considerando inocente, mas não vamos te deixar candidatar mesmo assim! Que beleza! Ou o cara é presumido inocente ou é presumido culpado. Não tem meio termo. Se é presumido inocente, não pode ter qualquer direito tolhido”.

Na mesma linha, o jornalista e ex-deputado federal Marcos Rolim também chamou a atenção para o fato de que o princípio da presunção da inocência é uma das garantias basilares do Estado de Direito e que o que o projeto ficha limpa pretende estabelecer é o “princípio de presunção de culpa”. Além disso, Rolim lembra que a idéia de ficha limpa não é nova e já foi apresentada no Brasil, durante a ditadura militar:

“Foi a ditadura militar que, com a Emenda Constitucional nº 1 e a Lei Complementar nº 5, estabeleceu a cassação dos direitos políticos e a inegibilidade por “vida pregressa”; vale dizer: sem sentença condenatória com trânsito em julgado”.

E se a idéia de ficha limpa é pra valer, acrescenta o jornalista e ex-deputado federal, por que não aplicá-la também aos eleitores:

“Se pessoas com “ficha suja” não podem se candidatar, por que mesmo poderiam votar? Nos EUA, condenados perdem em definitivo o direito de votar, o que tem sido muito funcional para excluir do processo democrático milhões de pobres e negros, lá como aqui, “opções preferenciais” do direito penal. E a imprensa? Condenações em segunda instância assinalam uma “mídia ficha suja” no Brasil?”

Mas talvez a ameaça mais grave, e menos visível imediatamente, que ronda esse debate é a incessante campanha de demonização dos políticos e da atividade política, impulsionada quase que religiosamente pela mídia brasileira. Rolim cita como exemplo em seu artigo uma charge publicada no jornal Zero Hora sobre o tema: na charge de Iotti, políticos são retratados como animais peçonhentos, roedores, aracnídeos e felinos.

Nos últimos anos, diversas pesquisas realizadas em vários cantos do planeta registraram um crescente descrédito da população em relação à política e aos políticos de um modo geral. Prospera uma visão que coloca a classe política e a atividade política em uma esfera de desconfiança e perda de legitimidade. A tentação de jogar todos os partidos e políticos em uma mesma vala comum de oportunistas e aproveitadores representa um perigo para a sobrevivência da própria idéia de democracia. O que explica esse fenômeno que se reproduz em vários países? A política e os políticos estão, de fato, fadados a mergulhar em um poço sem fundo de desconfiança? Essa desconfiança deve-se unicamente ao comportamento dos políticos ou há outros fatores que explicam seu crescimento?

É sintomático que o debate sobre a “ficha limpa” apareça dissociado do tema da reforma política. Eternamente proteladas e engavetadas, as propostas de uma mudança na legislação sobre as eleições e o financiamento das campanhas não obtém mesmo o alto grau de consenso e mobilização. Vale a pena lembrar de uma observação feita pelo filósofo esloveno Slavoj Zizek acerca do papel da moralidade na política. Ele analisa o caso italiano, onde uma operação Mãos Limpas promoveu uma devassa na classe política do país. Qual foi o resultado? Zizek comenta:

“Sua vitória (de Berlusconi) é uma lição deprimente sobre o papel da moralidade na política: o supremo desfecho da grande catarse moral-política – a campanha anticorrupção das mãos limpas que, uma década atrás, arruinou a democracia cristã, e com ela a polarização ideológica entre democratas cristãos e comunistas que dominou a política italiana no pós-guerra – é Berlusconi no poder. É algo como Rupert Murdoch vencer uma eleição na Grã-Bretanha: um movimento político gerenciado como empresa de publicidade e negócios. A Forza Itália de Berlusconi não é mais um partido político, mas sim – como o nome indica – uma espécie de torcida”. (Às portas da revolução“, Boitempo, p. 332)

A eleição de políticos de “tipo Berlusconi” mostra outra fragilidade dessa idéia. Marcos Rolim desdobra bem essa fragilidade:

Muitos dos corruptos brasileiros possuem “ficha limpa” – especialmente os mais espertos, que não deixam rastros. Por outro lado, uma lei do tipo na África do Sul não teria permitido a eleição de Nelson Mandela, cuja “ficha suja” envolvia condenação por “terrorismo”. Várias lideranças sindicais brasileiras possuem condenações em segunda instância por “crimes” que envolveram participação em greves ou em lutas populares; devemos impedir que se candidatem?

Agora mesmo, cabe lembrar, no Rio Grande do Sul e em São Paulo lideranças sindicais estão sofrendo condenações por protestos realizados contra os governos dos respectivos estados. Já não estão mais com sua ficha limpa. Os governantes dos dois estados, ao contrário, acusados de envolvimento em esquemas de corrupção, de autoritarismo e de sucateamento dos serviços públicos seguem com a ficha limpíssima. É este o caminho? Uma aberração político-jurídica vai melhorar nossa democracia?

Uáli, tenta se enconder!!!!

Sexta, 12 de maio de 2006.  Onde estava o Uáli?

Ontem, o ex-governador Geraldo Alckmin em entrevista a Silvia Amorim do Estado de São Paulo disse estar preparado e mais experiente para promover avanços. Realmente, temos que concordar… o cara tem know-how (seja lá o que isso significa!).

Por isso separei duas perguntas que considerei pertinentes ao pré-candidato que se lançará em campanha a partir de hoje: (Se vocês quiserem a entrevista está aqui.)

“Por que ser governador de novo?

Eu me sinto mais preparado, mais experiente para promover avanços ainda maiores. Entendo que o PSDB, nesse período que governou São Paulo, deu certo. A melhor prova disso foi que no ano passado o governo investiu mais de R$ 19 bilhões. Quem viu o governo do Estado 15 anos atrás praticamente com capacidade de investimento negativa, obras paradas, Banespa sob intervenção, o Estado com dívida. Acho que o PSDB em São Paulo estabeleceu um novo paradigma de gestão. Há desafios, mas avançou muito. (Grifo nosso)

Como avalia a atuação do PSDB na segurança pública? As estatísticas mostram um aumento dos homicídios e roubos no início deste ano.

Um dos grandes trabalhos que fizemos foi na segurança pública. (grifo nosso) São Paulo tinha, em 2000, 12.800 homicídios. Foram 4.600 no ano passado. Esse primeiro trimestre teve uma subida, mas não dá para dizer que é uma tendência. Em 1997, o Estado era o quinto do Brasil em homicídios. Em 2007, foi 25º. Se você me perguntar se estamos satisfeitos, eu digo não. Agora, segurança também é um problema federal.”

***

Eu não entendo nada de jornalismo e também não entendi qual o motivo da jornalista não ter questionado sobre alguns eventos na antiga adminstração dele. Vai ver eles preferem que outros possam fazer esse tipo de pergunta, de preferência de muuuito longe:

Façam seus julgamentos.

Maria Rita KehlO Estado de S.Paulo (Do PIG. O jornal não presta, mas de vez enquando aparecem algumas pérolas).

Via: Vi o Mundo. Acesso em 08/05/2010 às 10h e 30min.

O motoboy Eduardo Pinheiro dos Santos nasceu um ano depois da promulgação da lei da Anistia no Brasil, de 1979. Aos 30 anos, talvez sem conhecer o fato de que aqui, a redemocratização custou à sociedade o preço do perdão aos agentes do Estado que torturaram, assassinaram e fizeram desaparecer os corpos de opositores da ditadura, Pinheiro foi espancado seguidas vezes, até a morte, por um grupo de 12 policiais militares com os quais teve o azar de se desentender a respeito do singelo furto de uma bicicleta. Treze dias depois do crime, a mãe do rapaz recebeu um pedido de desculpas assinado pelo
comandante-geral da PM. Disse então aos jornais que perdoa os assassinos de seu filho. Perdoa antes do julgamento. Perdoa porque tem bom coração. O assassinato de Pinheiro é mais uma prova trágica de que os crimes silenciados ao longo da história de um país tendem a se repetir. Em infeliz conluio com a passividade, perdão, bondade, geral.

Encararemos os fatos: a sociedade brasileira não está nem aí para a tortura cometida no País, tanto faz se no passado ou no presente. Pouca gente se manifestou a favor da iniciativa das famílias Teles e Merlino, que tentam condenar o coronel Ustra, reconhecido torturador de seus familiares e de outros opositores do regime militar. Em 2008, quando o ministro da Justiça Tarso Genro e o secretário de Direitos Humanos Paulo Vannuchi propuseram que se reabrisse no Brasil o debate a respeito da (não) punição aos agentes da repressão que torturaram prisioneiros durante a ditadura, as cartas de leitores nos principais jornais do País foram, na maioria, assustadoras: os que queriam apurar os crimes foram acusados de ressentidos, vingativos, passadistas. A culpa pela ferocidade da repressão recaiu sobre as vítimas. A retórica autoritária ressurgiu com a força do retorno do recalcado: quem não deve não teme; quem tomou, mereceu, etc. A depender de alguns compatriotas, estaria instaurada a punição preventiva no País.

Julgamento sumário e pena de morte para quem, no futuro, faria do Brasil um país comunista. Faltou completar a apologia dos crimes de Estado dizendo que os torturadores eram bravos agentes da Lei em defesa da – democracia. Replico os argumentos de civis, leitores de jornais. A reação militar, é claro, foi ainda pior. “Que medo vocês (eles) têm de nós.”

No dia em que escrevo, o ministro Eros Graus votou contra a proposta da OAB, de revisão da Lei da Anistia no que toca à impunidade dos torturadores. Para o relator do STF, a lei não deve ser revista. Os torturadores não serão julgados. O argumento de que a nossa anistia foi “bilateral” omite a grotesca desproporção entre as forças que lutavam contra a ditadura (inclusive os que escolheram a via da luta armada) e o aparato repressivo dos governos militares. Os prisioneiros torturados não foram mortos em combate. O ministro, assim como a Advocacia Geral da União e os principais candidatos à Presidência da República sabem que a tortura é crime contra a humanidade, não anistiável pela nossa lei de 1979. Mas somos um povo tão bom. Não levamos as coisas a ferro e fogo como nossos vizinhos argentinos, chilenos, uruguaios. Fomos o único país, entre as ferozes ditaduras latino-americanas dos anos 60 e 70, que não julgou seus generais nem seus torturadores. Aqui morrem todos de pijamas em apartamentos de frente para o mar, com a consciência do dever cumprido. A pesquisadora norte-americana Kathrin Sikking revelou que no Brasil, à diferença de outros países da América latina, a polícia mata mais hoje, em plena democracia, do que no período militar. Mata porque pode matar. Mata porque nós continuamos a dizer tudo bem.

Pouca gente se dá conta de que a tortura consentida, por baixo do pano, durante a ditadura militar é a mesma a que assistimos hoje, passivos e horrorizados. Doença grave, doença crônica contra a qual a democracia só conseguiu imunizar os filhos da classe média e alta, nunca os filhos dos pobres. Um traço muito persistente de nossa cultura, dizem os conformados. Preço a pagar pelas vantagens da cordialidade brasileira. “Sabe, no fundo eu sou um sentimental (…). Mesmo quando minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar/ Meu coração fecha os olhos e sinceramente, chora.” (Chico Buarque e Ruy Guerra).

Pouca gente parece perceber que a violência policial prosseguiu e cresceu no País porque nós consentimos – desde que só vitime os sem-cidadania, digo: os pobres. O Brasil é passadista, sim. Não por culpa dos poucos que ainda lutam para terminar de vez com as mazelas herdadas de 21 anos de ditadura militar. É passadista porque teme romper com seu passado. A complacência e o descaso com a política nos impedem de seguir frente. Em frente. Livres das irregularidades, dos abusos e da conivência silenciosa com a parcela ilegal e criminosa que ainda toleramos, dentro do nosso Estado frouxamente democratizado.

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100501/not_imp545397,0.php

Em: Luis Nassif, acesso em: 21/04/2010 às 12 h 34 min.

Por rafaelborges

“Todos podem ver as táticas de minhas conquistas, mas ninguém consegue discernir a estratégia que gerou as vitórias” (A Arte da Guerra – Sun Tzu)

“O Brasil tornou-se importante na comédias das nações, quase sem ninguém perceber” (Financial Times -abril de 2010)

O Brasil inegavelmente se tornou um ator mais relevante no cenário internacional. Muitos creditam isto ao carisma do presidente Lula, à força de nossa economia ou tradição de nossa diplomacia. Os críticos do governo, diriam que o país ganhou relevância apesar das decisões do Itamaraty, ao qual atribuem viés ideológico de esquerda na atualidade.

Nos últimos anos o país se viu envolvido em uma série de delicados episódios e em temas de grandeza absoluta.

O país atuou em conflitos como as greves na Venezuela (o governo brasileiro abasteceu o vizinho de petróleo enfraquecendo a posição dos que exigiam a renúncia de Chavez) a crise em Honduras, a tentativa de divisão da Bolívia e a invasão de tropas colombianas ao território equatoriano. Enfrentou duras disputas comerciais na questão do gás da Bolívia, da energia de Itaipu comprada do Paraguai e das tarifas de importação da Argentina. Notadamente nas disputas com vizinhos o país adotou retórica moderada e negociação “solidária”, recebendo críticas internas de fraqueza nestas situações.

O Brasil também procurou ser ouvido em questões de interesses globais. O combate à pobreza e ao aquecimento global, a promoção da paz no oriente médio e a exaustão do uso da diplomacia com países como o Irã, Cuba e Síria foram bandeiras de nossa diplomacia.

As táticas verde-amarelas na conquista de maior voz são visíveis como pregava Sun Tzu. O país utilizou o prestígio de Lula e a curiosidade internacional sobre o ex-metalúrgico. Adotou discursos supranacionais e inquestionáveis como combate à pobreza e a paz. Posicionou-se como porta-voz não só de nações sulamericanas, mas como de todo mundo em desenvolvimento. Aliou às viagens de comissões diplomáticas comissões empresariais que ajudaram na diversificação dos parceiros comerciais.

Em análises simplificadas, o objetivo brasileiro não está oculto e é quase um fetiche: assumir uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU. Vejo ambições mais complexas e sutilezas no discurso do ministro das relações exteriores, Celso Amorim. Em síntese, enxergo detalhes táticos, mas fico animado ao não discernir a estratégia.

A diplomacia brasileira se move para direita e esquerda como na ginga de um capoeirista. Critica as base americanas na Colômbia, mas fecha um acordo militar com os EUA. Amplia cooperação com o Irã ao tempo em que o faz com a França. Dialogou com Chavez e Bush com igual desenvoltura. A política externa chegou a ser definida como do “arco-íris” pelo Financial Times. Na base desta suposta ambiguidade está, paradoxalmente, a coerência.

A autoridade moral foi o maior cacife do Itamaraty. Para pleitear espaço na ONU o país disponibilizou tropas à entidade no Haiti. Ao buscar anistia de dívidas a países africanos abdicou de crédito que tinha com alguns deles. Recuou em algumas posições para tentar fechar a rodada Doha. Não só abriu mão de ajuda financeira como se dispôs a contribuir com um fundo de ajuda a paísses em desenvolvimento na tentativa de salvar o encontro ecológico de Copenhagen. Na questão de Honduras, ao trombar com a administração Obama, o Brasil estava alinhado à posição da ONU e OEA. Até mesmo na questão nuclear o país tem um discurso coerente alertando para os erros cometidos no Iraque, defendendo que o desarmamento deve alcançar efetivamente grandes potências e, por fim, fazendo sempre a ressalva que a palavra final da ONU será respeitada pelo Brasil.

É a palavra final da ONU o grande castelo que o Brasil pretende assentar em outros alicerces. Em recente sabatina no Senado, o ministro Celso Amorim, em meio a resposta sobre supostos erros de sua atuação destacou duas alianças brasileiras. Fora do contexto, o diplomata deixou escapar que os grupos denominados BASIC (Brasil, África do Sul e Índia e China) e BRIC (este sem África do Sul e com a Rússia) são os grandes saltos estratégicos do país.

O país não conseguirá um papel à altura dos membros permanentes do Conselho de Segurança como gesto de boa vontade dos membros existentes. O mero assento permanente como concessão dos países desenvolvidos traria apenas uma igualdade formal. Sebe também que pouco importa fazer parte de um Conselho se os EUA o ignorar sempre que desejar como fez na guerra do Iraque.

O Brasil trabalha de forma articulada para que a nova ordem econômica se converta em nova ordem política. Os BRIC´s terão cada vez mais peso, mas não adianta medir forças com as potências estabelecidas. Por isso a simpatia da França é importante, assim como é relevante reformar a ONU por dentro. Discurso firme com os EUA é necessário, mas radicalização bolivariana é contraproducente.

O país avança em seus objetivos com acertos e erros táticos. Entretanto, segundo Sun Tzu, suas vitórias são geradas porque sua estratégia não é visível, como atesta a declaração do Financial Times.

E Dilma vai virando outra Marta

Teimosia, arrogância e indolência na campanha de 2010

Mauro Carrara

Meu Deus! Chega de “mimimi”, garotada. Quem não sabia? Quem foi pego de surpresa pela operação Tempestade no Cerrado? Quem imaginava céu de brigadeiro na voo de Dilma ao Planalto?

Há décadas, o roteiro de destruição de reputações é o mesmo. E a reação da cúpula de comunicação do PT, o partido sem mídia, é sempre a mesma. Mistura teimosia, arrogância e indolência. Invariavelmente, dá com os burros n’água.

Erudina, por exemplo, fez excelente trabalho na prefeitura de São Paulo, mas foi duramente fustigada pelos jornalões.

O Estadão, por exemplo, pagava um repórter para buscar, durante 24 horas, informações que a prejudicassem.

Alberto Luchetti Neto, sujeito de cultura e talentos limitados, aproveitou a oportunidade e virou peixe grande na imprensa. Fez amigos poderosos.

Pouco depois, virou diretor executivo da Rádio Bandeirantes. Mais tarde, dirigiu o programa do Faustão, na Globo.

Os fatos oferecem uma ideia de como a direita brasileira valoriza o trabalho tático de destruição de imagens. Erundina não fez seu sucessor, e os barões paulistas consideraram ter contraído uma dívida eterna com Luchetti.

Anos depois, Marta Suplicy realizou belas obras à frente da prefeitura paulistana, mas também sofreu pesadíssimo bombardeio da imprensa elito-fascista da Capital.

Em 2008, havia uma memória popular residual dos benefícios obtidos durante a gestão da petista. E, assim, a loura ocupou, de cara, o topo das pesquisas de opinião por meses e meses.

Bastou o primeiro lugar temporário para que os teimosos, arrogantes e indolentes desenhassem a trilha de mais um fracasso eleitoral.

Negligentes, não foram capazes de erigir uma barreira midiática de proteção à candidata. E, assim, todos os rótulos negativos foram novamente (e facilmente) colados à petista, pintada na Internet como “perua”, “vagabunda”, “ladra”, “adúltera” e “incompetente”.

O sandeu Kassab pôde então nadar de braçada, e ganhou de goleada, até mesmo na periferia, tradicional reduto vermelho.

Há várias semanas, denunciamos a deflagração da operação “Tempestade no Cerrado“, logo após o encontro dos barões da imprensa no Instituto Millenium.

Afinal, tudo vazou de imediato nas redações. Os editores foram obrigados a adestrar cada repórter para a ação destrutiva em curso.

Também avisamos sobre a fábrica de “hoaxes” graeffista. E, de lá para cá, dezenas e dezenas de pessoas foram arregimentadas para divulgar peças difamatórias na Internet.

O rapaz do “xerox”, aqui perto de casa, no Brás, já recebeu uma dessas bombas virtuais.

Até a mulher da quitanda já leu. Ela não tem Internet, mas uma sobrinha tratou de imprimir o texto que aponta Dilma como “assaltante de bancos” e “prostituta de guerrilheiros”.

Paralelamente, até os entes minerais já sabiam que a grande imprensa mandaria às favas qualquer escrúpulo, antecipando a campanha serrista. E está aí, na propaganda institucional da Globo (suspensa) e na capa escandalosa de “Veja”.

E, dessa forma, sem qualquer oposição organizada, as forças reacionárias vão colando tudo que há de ruim à imagem de Dilma Rousseff. Vai virando outra Marta…

Há um padrão repetitivo de erros nas ações estratégicas de comunicação do PT e de seus aliados. E são cinco:

– No poder há 7 anos, a esquerda não foi capaz de criar um jornal eclético, multitemático, dirigido às massas ou à classe média leitora. Até os confusos comunistas italianos têm; aqui, não temos nada.

– Tampouco há um portal de Internet, também eclético e multitemático, capaz de difundir a versão correta dos fatos políticos e divulgar as conquistas do governo Lula. A juventude de classe média, por exemplo, é altamente conectada, mas tem a pior visão possível da esquerda.

– 90% dos conteúdos da chamada “blogosfera lulista” circulam dentro dos próprios redutos da esquerda. As denúncias, correções e defesas raramente chegam ao povo votante. Temos de valorizar esses guerreiros midiáticos, mas os resultados, em termos midiáticos, são extremamente modestos.

– Não existe uma ação planejada e efetiva de caça aos difusores de calúnias na Internet. Aparentemente, a esquerda não tem advogados, desconhece a lei e considera inevitável a ação dos criminosos virtuais.

– O PT e seus aliados continuam com medo da imprensa monopolista. Não a denunciam, não a desmascaram. Vergonhosamente ajoelhados, reagem com vagas lamúrias, dirigidas aos próprios algozes. São incapazes de se comunicar diretamente com a população, de modo a desmascarar os barões midiáticos.

Vale lembrar ainda que pouquíssimos militantes têm feito a lição de casa. Entre os comentaristas dos sites dos grandes jornais, a malta reacionária está sempre em vantagem.

Em média, para cada comentário favorável a Dilma Rousseff e Lula, há 10 contrários.

Prova que não temos um Graeff do bem. E que nossos batalhões também são indisciplinados e, muitas vezes, preguiçosos.

Se o destino de Dilma pode ainda ser diferente daquele de Marta, há que se produzir uma mudança no curso das ações de comunicação e propaganda.

Se a candidata não pode ser estigmatizada, é preciso que essa operação de iluminação informativa comece agora, e já.

E esse trabalho de defesa estratégica precisa urgentemente gerar saber político extensivo. Precisa impactar o sujeito do xerox e a senhora da quitanda.

E chega de “mimimi”!

Abaixo publiquei artigos da autoria de Eduardo Guimarães e Luiz Carlos Azenha, respectivamente, dos sítios Cidadania.com e de Vi o Mundo.  Enquanto fazia o famoso Ctrl+C Ctrl+V imaginei que não seria algo muito criativo apenas copiá-los e publicá-los, mesmo que com os devidos créditos, pois, segundo o filósofo Marcos (2009, p. à ser escrita – não procurem, ele ainda não publicou este ensaio!), o ato de escrever é a atividade mais elevada do ser humano, ou da intelectualidade humana… da erudição… ou algo próximo disso. Portanto, não poderia deixar de tentar exercitar este hábito que por vezes me parece ser um enorme desafio, para não dizer um problema. (Penso que seria mais produtivo escrever meu TCC, mas isso não vem ao caso agora…)

Obviamente, ao obedecer os padrões da norma culta, aplicar-lhe algum estilo, reescrever por algumas dezenas de milhares de vezes (já imaginou Camões e os 8816 versos decassílabos?)  e usar da criatividade, o fruto da ação da escrita poderá ecoar por décadas, séculos e até milênios. Prova desta afirmação, são os milhares de escritores com os quais “trombamos” cotidianamente… Não com os autores, suas obras!

“Exemplos:”

Exemplos? Tá, exemplos: Fernando Pessoa, Shakespeare (Is it right?), Machado de Assis, Drummond, Tolstói, Gabriel Garcia (não escreverei Márquez, pois não sei se é com “s” ou com “z” e se tem acento), Kafka, outros ótimos escritores e outros não tão “ótimos” que tem suas obras eternizadas na memória de muitos e nas provas de literaturas do vestibular.

Está claro que esta luminária não tem a ambição de, sequer chegar aos pés das obras dos supra-citados – inclusive dos não tão “ótimos” – mas, aos poucos e com calma, romper o bloqueio sócio-intelecto-educacional e expressar o inexprimível… Tá ficou clichê, eu sei… não preciso forçar a barra nos primeiro posts…

Mas, de qualquer forma, o que importa é que… os autores… que escrevem… textos… autores que escrevem textos é redundante…

Perdi o foco…

Isso é o que dá quando não se elabora um texto com começo, meio e fim; com coesão e coerência. Inclusive, para que não confundam este texto com um dos ótimos e não tão ótimos escritores, deixarei o título que escrevi inicialmente (isso mesmo comecei pelo título!) e que não tem conexão com o texto.

Tá ruim, eu sei, preciso melhorar, mas, ao menos, ainda não me acomodei.

Do Guerreiro Eduardo Guimarães em http://edu.guim.blog.uol.com.br/

Atualizado às 18h45m de 19 de abril de 2010

Passei o último domingo debruçado sobre a representação que o Movimento dos Sem Mídia fará à Justiça Eleitoral nesta semana e, assim, não acompanhei muito atentamente a abrangência da ofensiva midiática pró-Serra que se abateu sobre o país de sexta-feira para cá. Só agora, lendo o competente trabalho do Luiz Carlos Azenha neste fim de semana, no seu Viomundo, é que me dei conta do que perdi.

Da pesquisa Datafolha para a capa da Veja com Serra, imitando a capa da Time com Barack Obama, depois a vinheta da Globo, que, a pretexto de comemorar os 45 anos da emissora, imita o slogan da campanha de Serra, “O Brasil pode mais”, e isso a cerca de seis meses da eleição, não acho que exista muito mais o que constatar sobre o uso ilegal até de concessões públicas em prol da candidatura tucana.

Fico imaginando como os barões da mídia e seus leões-de-chácara se divertem em seus convescotes comentando sobre esse interminável espernear da blogosfera, a qual só uma fração minúscula da sociedade lê, enquanto o PT se esconde, trêmulo, em algum canto, sem coragem de denunciar pesquisas falsificadas ou campanha eleitoral ilegal da mídia pró-Serra.

O PT deveria estar fazendo o que fará uma ONG sem dinheiro, presidida por um comerciante que, nas horas vagas, tenta prestar um serviço jornalístico de interesse público custeado com seus parcos recursos financeiros, no qual investe tempo que deveria usar para sobreviver com menos dificuldades. Ou seja: quem deveria representar à Justiça Eleitoral para investigar as pesquisas seria o PT, não o Movimento dos Sem Mídia.

A tal propaganda de Serra disfarçada de vinheta comemorativa da fundação da Globo deveria ser objeto de declarações fortes dos líderes e da assessoria jurídica da campanha de Dilma, mas essa turma está em transe e apavorada com a onda midiática pró-Serra, feita por um grupo político-partidário-empresarial que zomba da lei e da sociedade.

Minha vontade é a de mandar tudo isto para o inferno e ir cuidar da minha vida, mas não consigo. Seria uma atitude egoísta e burra porque não estou defendendo o PT ou Dilma ou Lula, mas a democracia e o futuro de meus filhos e netos, para que vivam em um país em que cada eleição não se transforme nesse mar de ilegalidades, manipulações e fraudes que estamos vendo.

Assim, chega de ficar esperneando, chega de chororô. Tenho certeza de que essa pesquisa Datafolha, tanto quanto a anterior, é uma enorme fraude, mas não posso provar. Assim, haverá que investigar TODAS as pesquisas.

A matéria do blog dos Amigos do Presidente Lula revela um indício, mas não prova nada. Por isso, incluiremos sua denúncia na representação tanto quanto as denúncias da Folha contra os institutos Sensus e Vox Populi. A lisura da eleição requer uma investigação e uma auditoria especializada sobre as denúncias dos dois lados e é isso o que o MSM pedirá à Justiça.

Estando as pesquisas sob investigação judicial, acredito que as próximas que Datafolha e Ibope fizerem terão que levar em conta o risco de cometerem um crime federal. Desafiarão a Justiça? Há que pagar para ver. Se acontecer, a sociedade terá que se mobilizar contra essa mídia como nunca fez, com sindicatos, partidos e movimentos sociais indo às ruas para protestar exclusivamente contra a ditadura midiática.

Continuamos – eu, o dr. Donizeti e outros companheiros – trabalhando de forma frenética na fundamentação jurídica da representação sobre as pesquisas. Ainda teremos que ver como faremos para protocolá-la, porque, em princípio, terá que ser feito em Brasília.

Aliás, vale explicar que a peça não será dirigida diretamente à Justiça Eleitoral, mas, sim, ao procurador-geral Eleitoral, que é o procurador-geral da República, o doutor Roberto Gurgel.

Devido aos afazeres profissionais dos diretores do Movimento dos Sem Mídia e devido ao dispêndio de recursos com passagem de avião etc. que haverá se o protocolo tiver que ser feito em Brasília, estamos estudando se um de nós terá como ir ou se conseguiremos protocolar a representação aqui em São Paulo mesmo.

Além disso, quarta-feira será feriado e hoje e amanhã a diretoria do MSM só poderá trabalhar à noite na representação, de forma que estamos imaginando materializá-la na Justiça, no máximo, até sexta-feira, com boas chances de ser na quinta.

É um passo, ao menos uma tentativa de se imprimir um pouco de justiça a uma campanha eleitoral para presidente que promete ser uma das mais injustas que já se viu, comparável às de 1989, de 1994 e de 1998, quando a mídia foi mais atuante contra Lula do que Collor e FHC, os quais puderam contar com uma ajuda midiática totalmente ilegal sem que a Justiça Eleitoral dissesse um A.

Mas estamos em 2010 e o Brasil avançou muito. Se não se pode apostar no partido que deveria representar a parcela da sociedade que integro e que clama por justiça – e não em benefício de grupos políticos, mas da democracia –, há que acreditar em alguma coisa. É o que fará o Movimento dos Sem Mídia apostando na Justiça para coibir essa vergonha, essa imundice, essa ilegalidade que essas empresas de mídia, mancomunadas com Serra e seu partido, estão praticando.

Não agüento mais ficar só constatando, constatando e constatando essa imoralidade tucano-midiática sem fazer nada. Chega de papo, é hora de todo cidadão decente agir em defesa de uma eleição justa, na qual todos tenham as mesmas chances e recursos para que o Brasil eleja presidente aquele que a maioria do eleitorado quiser e não o escolhido de meia dúzia de donos de jornais, rádios, tevês e portais de internet.