A saudade do servo na velha diplomacia brasileira

por Leonardo Boff, via Tijolaço (acesso em Viomundo.com, 04 de junho de 2010 às 16h 10 min.)

O filósofo F. Hegel em sua Fenomenologia do Espírito analisou detalhadamente a dialética do senhor e do servo. O senhor se torna tanto mais senhor quanto mais o servo internaliza em si o senhor, o que aprofunda ainda mais seu estado de servo. A mesma dialética identificou Paulo Freire na relação oprimido-opressor em sua clássica obra Pedagogia do oprimido. Com humor comentou Frei Betto: “em cada cabeça de oprimido há uma placa virtual que diz: hospedaria de opressor”. Quer dizer, o opressor hospeda em si oprimido e é exatamente isso que o faz oprimido. A libertação se realiza quando o oprimido extrojeta o opressor e ai começa então uma nova história na qual não haverá mais oprimido e opressor mas o cidadão livre.

Escrevo isso a propósito de nossa imprensa comercial, os grandes jornais do Rio, de São Paulo e de Porto Alegre, com referência à política externa do governo Lula no seu afã de mediar junto com o governo turco um acordo pacífico com o Irã a respeito do enriquecimento de urânio para fins não militares. Ler as opiniões emitidas por estes jornais, seja em editoriais seja por seus articulistas, alguns deles, embaixadores da velha guarda, reféns do tempo da guerra-fria, na lógica de amigo-inimigo é simplesmente estarrecedor. O Globo fala em “suicídio diplomático”(24/05) para referir apenas um título até suave. Bem que poderiam colocar como sub-cabeçalho de seus jornais:”Sucursal do Império” pois sua voz é mais eco da voz do senhor imperial do que a voz do jornalismo que objetivamente informa e honestamente opina. Outros, como o Jornal do Brasil, tem seguido uma linha de objetividade, fornecendo os dados principais para os leitores fazerem sua apreciação.

As opiniões revelam pessoas que têm saudades deste senhor imperial internalizado, de quem se comportam como súcubos. Não admitem que o Brasil de Lula ganhe relevância mundial e se transforme num ator político importante como o repetiu, há pouco, no Brasil, o Secretário Geral da ONU, Ban-Ki-moon. Querem vê-lo no lugar que lhe cabe: na periferia colonial, alinhado ao patrão imperial, qual cão amestrado e vira-lata. Posso imaginar o quanto os donos desses jornais sofrem ao ter que aceitar que o Brasil nunca poderá ser o que gostariam que fosse: um Estado-agregado como é Hawai e Porto-Rico. Como não há jeito, a maneira então de atender à voz do senhor internalizado, é difamar, ridicularizar e desqualificar, de forma até antipatriótica, a iniciativa e a pessoa do Presidente. Este notoriamente é reconhecido, mundo afora, como excepcional interlocutor, com grande habilidade nas negociações e dotado de singular força de convencimento.

O povo brasileiro abomina a subserviência aos poderosos e aprecia, às vezes ingenuamente, os estrangeiros e os outros povos. Sente-se orgulhoso de seu Presidente. Ele é um deles, um sobrevivente da grande tribulação, que as elites, tidas por Darcy Ribeiro como das mais reacionárias do mundo, nunca o aceitaram porque pensam que seu lugar não é na Presidência mas na fábrica produzindo para elas. Mas a história quis que fosse Presidente e que comparecesse como um personagem de grande carisma, unindo em sua pessoa ternura para com os humildes e vigor com o qual sustenta suas posições .

O que estamos assistindo é a contraposição de dois paradigmas de fazer diplomacia: uma velha, imperial, intimidatória, do uso da truculência ideológica, econômica e eventualmente militar, diplomacia inimiga da paz e da vida, que nunca trouxe resultados duradouros. E outra, do século XXI, que se dá conta de que vivemos numa fase nova da história, a história coletiva dos povos que se obrigam a conviver harmoniosamente num pequeno planeta, escasso de recursos e semi-devastado. Para esta nova situação impõe-se a diplomacia do diálogo incansável, da negociação do ganha-ganha, dos acertos para além das diferenças. Lula entendeu esta fase planetária. Fez-se protagonista do novo, daquela estratégia que pode efetivamente evitar a maior praga que jamais existiu: a guerra que só destrói e mata. Agora, ou seguiremos esta nova diplomacia, ou nos entredevoraremos. Ou Hillary ou Lula.

A nossa imprensa comercial é obtusa face a essa nova emergência da história. Por isso abomina a diplomacia de Lula

Leonardo Boff é Teólogo e autor de Nossa ressurreição na morte, Vozes 2007

E Dilma vai virando outra Marta

Teimosia, arrogância e indolência na campanha de 2010

Mauro Carrara

Meu Deus! Chega de “mimimi”, garotada. Quem não sabia? Quem foi pego de surpresa pela operação Tempestade no Cerrado? Quem imaginava céu de brigadeiro na voo de Dilma ao Planalto?

Há décadas, o roteiro de destruição de reputações é o mesmo. E a reação da cúpula de comunicação do PT, o partido sem mídia, é sempre a mesma. Mistura teimosia, arrogância e indolência. Invariavelmente, dá com os burros n’água.

Erudina, por exemplo, fez excelente trabalho na prefeitura de São Paulo, mas foi duramente fustigada pelos jornalões.

O Estadão, por exemplo, pagava um repórter para buscar, durante 24 horas, informações que a prejudicassem.

Alberto Luchetti Neto, sujeito de cultura e talentos limitados, aproveitou a oportunidade e virou peixe grande na imprensa. Fez amigos poderosos.

Pouco depois, virou diretor executivo da Rádio Bandeirantes. Mais tarde, dirigiu o programa do Faustão, na Globo.

Os fatos oferecem uma ideia de como a direita brasileira valoriza o trabalho tático de destruição de imagens. Erundina não fez seu sucessor, e os barões paulistas consideraram ter contraído uma dívida eterna com Luchetti.

Anos depois, Marta Suplicy realizou belas obras à frente da prefeitura paulistana, mas também sofreu pesadíssimo bombardeio da imprensa elito-fascista da Capital.

Em 2008, havia uma memória popular residual dos benefícios obtidos durante a gestão da petista. E, assim, a loura ocupou, de cara, o topo das pesquisas de opinião por meses e meses.

Bastou o primeiro lugar temporário para que os teimosos, arrogantes e indolentes desenhassem a trilha de mais um fracasso eleitoral.

Negligentes, não foram capazes de erigir uma barreira midiática de proteção à candidata. E, assim, todos os rótulos negativos foram novamente (e facilmente) colados à petista, pintada na Internet como “perua”, “vagabunda”, “ladra”, “adúltera” e “incompetente”.

O sandeu Kassab pôde então nadar de braçada, e ganhou de goleada, até mesmo na periferia, tradicional reduto vermelho.

Há várias semanas, denunciamos a deflagração da operação “Tempestade no Cerrado“, logo após o encontro dos barões da imprensa no Instituto Millenium.

Afinal, tudo vazou de imediato nas redações. Os editores foram obrigados a adestrar cada repórter para a ação destrutiva em curso.

Também avisamos sobre a fábrica de “hoaxes” graeffista. E, de lá para cá, dezenas e dezenas de pessoas foram arregimentadas para divulgar peças difamatórias na Internet.

O rapaz do “xerox”, aqui perto de casa, no Brás, já recebeu uma dessas bombas virtuais.

Até a mulher da quitanda já leu. Ela não tem Internet, mas uma sobrinha tratou de imprimir o texto que aponta Dilma como “assaltante de bancos” e “prostituta de guerrilheiros”.

Paralelamente, até os entes minerais já sabiam que a grande imprensa mandaria às favas qualquer escrúpulo, antecipando a campanha serrista. E está aí, na propaganda institucional da Globo (suspensa) e na capa escandalosa de “Veja”.

E, dessa forma, sem qualquer oposição organizada, as forças reacionárias vão colando tudo que há de ruim à imagem de Dilma Rousseff. Vai virando outra Marta…

Há um padrão repetitivo de erros nas ações estratégicas de comunicação do PT e de seus aliados. E são cinco:

– No poder há 7 anos, a esquerda não foi capaz de criar um jornal eclético, multitemático, dirigido às massas ou à classe média leitora. Até os confusos comunistas italianos têm; aqui, não temos nada.

– Tampouco há um portal de Internet, também eclético e multitemático, capaz de difundir a versão correta dos fatos políticos e divulgar as conquistas do governo Lula. A juventude de classe média, por exemplo, é altamente conectada, mas tem a pior visão possível da esquerda.

– 90% dos conteúdos da chamada “blogosfera lulista” circulam dentro dos próprios redutos da esquerda. As denúncias, correções e defesas raramente chegam ao povo votante. Temos de valorizar esses guerreiros midiáticos, mas os resultados, em termos midiáticos, são extremamente modestos.

– Não existe uma ação planejada e efetiva de caça aos difusores de calúnias na Internet. Aparentemente, a esquerda não tem advogados, desconhece a lei e considera inevitável a ação dos criminosos virtuais.

– O PT e seus aliados continuam com medo da imprensa monopolista. Não a denunciam, não a desmascaram. Vergonhosamente ajoelhados, reagem com vagas lamúrias, dirigidas aos próprios algozes. São incapazes de se comunicar diretamente com a população, de modo a desmascarar os barões midiáticos.

Vale lembrar ainda que pouquíssimos militantes têm feito a lição de casa. Entre os comentaristas dos sites dos grandes jornais, a malta reacionária está sempre em vantagem.

Em média, para cada comentário favorável a Dilma Rousseff e Lula, há 10 contrários.

Prova que não temos um Graeff do bem. E que nossos batalhões também são indisciplinados e, muitas vezes, preguiçosos.

Se o destino de Dilma pode ainda ser diferente daquele de Marta, há que se produzir uma mudança no curso das ações de comunicação e propaganda.

Se a candidata não pode ser estigmatizada, é preciso que essa operação de iluminação informativa comece agora, e já.

E esse trabalho de defesa estratégica precisa urgentemente gerar saber político extensivo. Precisa impactar o sujeito do xerox e a senhora da quitanda.

E chega de “mimimi”!

Por Luiz Carlos Azenha, em http://www.viomundo.com.br

Eu terminei um post anterior, este aqui, prometendo traçar um paralelo entre Collor e Serra.

Não se trata de um paralelo entre as biografias dos dois.

Nem do que ambos fizeram com o poder que alcançaram.

Trata-se de um paralelo entre a conjuntura política que levou Collor a ser quem foi na campanha de 1989, tema do post anterior, e a conjuntura política em que o ex-governador de São Paulo se lançou candidato, em 2010.

Há fatos sobre os quais existe pouca discordância, quase nenhuma: com Geraldo Alckmin eleito governador de São Paulo — se isso de fato acontecer — e Aécio Neves eleito senador por Minas Gerais em 2010 as opções políticas de Serra serão reduzidas. Ou ganha, ou ganha.

Acrescente a isso a idade do candidato, 68 anos, e o fato de que o presidente Lula pode voltar a concorrer em 2014.

Para Serra — em particular — e para as  forças políticas que se reúnem em torno dele, 2010 é a eleição!

Collor, em 1989, satisfez o desejo de renovação da sociedade brasileira. Terminava o governo transitório de José Sarney, o Brasil vivia um momento de inflação galopante, de estagnação econômica, desemprego e impasse na dívida externa. Quanto sofri com colegas jornalistas correndo atrás das equipes de negociação da dívida no Fundo Monetário Internacional, no Banco Mundial, na sede do Tesouro e na sede do Citibank, na avenida Lexington, em Nova York!

Collor introduziu o marketing político nas campanhas eleitorais (para quem está chegando agora, falo da primeira eleição presidencial brasileira depois do regime militar, em 1989).

Collor tirou proveito do pânico dos empresários com a perspectiva de ver Brizola ou Lula no poder.

Na edição em que narrou a vitória dele, a revista Veja escreveu:

“Quando a campanha presidencial teve início, havia um espectro no horizonte chamado Brizola – a possibilidade de um candidato de esquerda populista (Leonel Brizola) ou de esquerda socialista (Luís Inácio Lula da Silva) acabar levando a sucessão. […]

O anti-Brizola, na verdade, era Fernando Collor, candidato no qual a maioria dos políticos prestava a mesma atenção que dispensa ao Estado do qual ele foi governador, Alagoas. Ao longo dos meses seguintes, Collor iria demonstrar que é o mais espetacular caso de self-made man da política brasileira.  […]

Uma das grandes injustiças cometidas contra Fernando Collor de Mello ao longo de toda a campanha presidencial foi o lançamento da teoria de que ele não passava de um produto de laboratório, uma espécie de Cyborg, construído por grandes empresários para vencer o espectro Brizola. É verdade que, na reta final, qualquer dono de empresa com um faturamento capaz de ser contabilizado na casa dos milhões de dólares fechou com Collor – contra Brizola, no início, contra Lula, mais tarde. […]

Depois da votação de 17 de dezembro, constata-se que, se Collor é um candidato criado em laboratório, era ele próprio quem manipulava todos os instrumentos disponíveis. Foi ele quem confeccionou o discurso contra os marajás. Também é de sua iniciativa a postura de ataques ao presidente José Sarney – a quem acusou de estar cercado de assessores corruptos e até assassinos no Planalto. Também é de Collor a atitude antiesquerda nos últimos dias da campanha no segundo rumo. Saiu dos laboratórios do novo presidente, por fim, a nuvem de mal-estar que acompanhou a candidatura de Luís Inácio Lula da Silva nos momentos finais da campanha no segundo turno. […]

Entre o Lula triunfal dos grandes comícios da reta final e o candidato abatido na manhã de 17 de dezembro havia uma diferença de peso. Para o candidato do PT, os últimos dias de campanha foram marcados por uma sucessão de dificuldades. Uma delas consistiu no grande golpe baixo da campanha – o depoimento de sua ex-namorada Mirian Cordeiro, que, conforme denúncias de assessores do PRN, embolsou 200 000 cruzados novos para ir ao horário político de Collor denunciar que o concorrente do PT tentara convencê-la a fazer um aborto para impedir o nascimento de uma filha do casal, Lurian, que hoje tem 15 anos de idade.”

Avancemos, pois, até 2010, quando José Serra representa as forças anti-Lula.

Porém, Lula em 2010 não é o José Sarney de 1989.  A popularidade do presidente da República e de seu governo ronda a casa dos 70%.

Vem daí a necessidade de inventar um novo Cyborg:

Cyborg, o Homem de Seis Milhões de Dólares, foi um seriado extremamente popular que passou na TV Globo nos anos 80. O galã Lee Majors era meio homem, meio máquina, daí a referência da revista Veja a Collor, o Cyborg.

Na conjuntura atual, em que uma comparação de resultados com o governo Lula seria altamente prejudicial a Serra, ele e seus assessores de marketing tentam reinventá-lo como o candidato acidental: ele não tem nada a ver com o trânsito de São Paulo, nada a ver com as enchentes de São Paulo, nada a ver com o tiroteio entre as polícias paulistas, nada a ver com as taxas de homicídio, nada a ver com a crise penitenciária, nada a ver com a greve dos professores, nada a ver com a cratera do metrô, nada a ver com José Roberto Arruda, nada a ver com o fato de que será preciso monitorar os ventos no Rodoanel. Quando eles — os ventos, não os motoristas — decidirem andar a mais de 50 km hora, sai de baixo!

Não faltaram condições para que o governador paulista fizesse uma governo revolucionário em São Paulo, que pudesse ser apresentado agora aos eleitores para se contrapor ao projeto político da ex-ministra Dilma. Como escreveu Luís Nassif, aqui:

“Critiquei inúmeras vezes a oportunidade jogada fora por Serra, de não ter mobilizado o estado de São Paulo em torno de um projeto de desenvolvimento, de inovação das empresas. Tinha-se de tudo no estado: grandes empresas, as melhores universidades, os melhores institutos de pesquisa, as melhores redes de atendimento empresarial, o apoio total da mídia, a melhor infra-estrutura urbana, as melhores cidades médias. Se juntasse todos esses atores, Serra poderia ter montado programas inesquecíveis de capacitação da indústria paulista, dos pequenos e médios empreendedores, poderia ter comandado acordos fundamentais, surfado nas novas ideias, feito uma revolução gerencial, mudado a estrutura de secretariado do governo. Enfim, aqui se teria o laboratório ideal para colocar em prática novas novos conceitos. Só que, em todo seu governo, Serra não soube apresentar uma nova ideia sequer.

Quando estourou a crise global, poderia ter saído na frente de Lula, com medidas próprias do Estado, grandes concentrações de empresários e trabalhadores contra a crise, medidas fiscais etc. Levou cinco meses para receber representantes da indústria. Para tomar as primeiras medidas, foi quase um semestre. A indústria de máquinas e equipamentos registrava 40% de queda nas vendas, e a única coisa que o estado fazia era ampliar a substituição tributária. Para serem recebidos pelo governador, empresários praticamente ameaçaram uma mobilização na frente do Palácio, junto com CUT e Força Sindical.”

Na falta de ideias inovadoras e de uma obra impressionante, para além do rodoviarismo malufista, o que faz um candidato que representa mudança em um quadro de crescimento econômico acelerado, recordes de novos empregos e grande satisfação do eleitorado com um presidente que pretende eleger sua sucessora?

Faz de conta que não representa a mudança. Faz de conta que ele, sim, é o pós-Lula, um slogan que tem a vantagem de servir ao mesmo tempo àqueles que não suportam Lula e aos que não votarão em um candidato “contra Lula”.

Serra se apresenta como o “candidato do bem”, slogan logo apropriado por um internauta para fazer piada:

Sem ideias inovadoras e grandes projetos que possa apresentar para se contrapor às realizações do governo Lula, Serra ficará extremamente dependente dos marqueteiros e de sua aliança com a TV Globo, a Veja e a Folha de S. Paulo.

Primeiro, para ter a segurança de que poderá repetir o padrão que marcou campanhas anteriores do PSDB sem ser desmascarado pela grande mídia.

Campanhas como esta, de 2002:

No anúncio, Serra e o PSDB assumem com exclusividade a paternidade de três ideias que no mínimo deveriam dividir com outros partidos, políticos ou profissionais.

O Plano Real, como se sabe, foi implantado no governo do ex-presidente Itamar Franco, como ele mesmo explica, aqui:

Os genéricos, cuja paternidade o ex-ministro da Saúde José Serra assumiu completamente, pertencem também ao falecido deputado Jamil Haddad, do PSB, conforme ele contou à repórter Conceição Lemes, do Viomundo:

“Serra, pai dos genéricos? PSDB, criador dos genéricos? Assumir como deles é um embuste! Se fizerem isso de novo, eu denuncio”, prometeu há menos de um mês a esta repórter o verdadeiro pai dos genéricos, o médico Jamil Haddad, 83 anos, ex-deputado federal, ex-prefeito do Rio Janeiro e ministro da Saúde de outubro de 1992 a agosto de1993, no governo Itamar Franco. “Em política, a traição é uma norma. Só não se sabe a data.”

Leia o post completo clicando aqui.

E o seguro-desemprego teve sua gênese, na verdade, no governo do ex-presidente José Sarney, do PMDB, em 1986, conforme afirmou o ex-ministro do Trabalho Almir Pazzianotto à revista Veja, durante a campanha eleitoral de 2002:

“Em outdoors, José Serra tem se apresentado como o responsável pelo seguro-desemprego. Não é verdade. “Se o seguro-desemprego tem um pai, é Sarney”, afirmou o ex-ministro do Trabalho de José Sarney Almir Pazzianotto, ex-presidente do Tribunal Superior do Trabalho. O seguro-desemprego foi criado em 1986. Coube a Serra, durante a elaboração da nova Constituição, dois anos depois, criar uma fonte de financiamento estável para o benefício. “O Boeing 747 é muito melhor que o 14 Bis, mas quem inventou o avião foi Santos Dumont”, diz Pazzianotto.”

Mas não foi só. Como mostrou a incansável Conceição Lemes, a repórter de Saúde mais premiada do Brasil, quando a gripe suína ameaçava se transformar em uma hecatombe mundial, o ex-governador viu uma oportunidade de marketing que, quem sabe, ele poderia explorar na campanha eleitoral de 2010 — e tentou se apropriar da paternidade das vacinas:

“Lendo todo o material, distribuído oficialmente, parece que o Estado de São Paulo, com o governador José Serra à frente: 1. arcará com os custos vacinas contra a gripe suína no Brasil; 2. distribuirá as vacinas via Ministério da Saúde (MS); 3. São Paulo será o primeiro a dispor da vacina no país; 4. São Paulo saiu na frente do restante do Brasil, inclusive do próprio Ministério da Saúde.”

Leia como nada disso era verdade, clicando aqui.

Mas o caso clássico, também denunciado pela Conceição, foi a apropriação, por Serra e pelo PSDB,  do projeto de combate à AIDS no Brasil, que surgiu no governo Sarney, passou pelo governo Collor e chegou ao de Fernando Henrique Cardoso. Há consenso de que a bióloga Lair Guerra foi a grande batalhadora do projeto, conforme atestou o ex-ministro da Saúde Adib Jatene, que precedeu Serra no cargo:

“A eficiência com que Lair comandou o setor trouxe as primeiras perspectivas otimistas sobre o controle da doença”, observa Jatene. “Foi sua capacidade de propor, sua coragem de defender e sua eficiência em executar que nos colocaram na direção correta, consolidada por tantos que, com competência e dedicação,mantiveram as ações em crescendo, garantindo, em área tão sensível, o reconhecimento de uma liderança que partiu de Lair.”

Leia o texto completo clicando aqui.

Só a certeza da impunidade diante da mídia permitiria ao PSDB, em 2010, começar sua mobilização com um vídeo em que, mais uma vez, a “revolução” da saúde se baseia num tripé do qual fazem parte os genéricos e o combate à AIDS.

O texto agora fala que Serra “implantou” projetos neste sentido durante sua passagem pelo ministério da Saúde, o que é factualmente correto (curiosamente, a passagem de Serra pelo Ministério do Planejamento nunca é mencionada), mas nessa área o PSDB está longe de ter promovido uma “revolução”.

Como mostramos acima, foram ações que tiveram origem muito antes, que envolveram mais de um partido, outros profissionais de saúde e políticos. Mas o PSDB segue adiante, com a certeza de que escapará ileso de qualquer cerco midiático:

Espero ter estabelecido, com razoável credibilidade, que existe aí um padrão.

Serra e o PSDB, que não assumem seus “erros”, assumem como deles ideias e projetos alheios. Isso só é possível porque contam com a, vamos dizer, “solidariedade’” da grande mídia.

A que outro partido ou político seria permitido fazer o mesmo sem uma barragem de críticas da TV Globo, da Folha e da Veja? Seria um escândalo!

Para os que não ficaram convencidos, vai aí mais um exemplo que vem de cima.

O presidente do PSDB, Sergio Guerra, aquele que em entrevista de alcance nacional à revista Veja prometeu acabar com o PAC, em âmbito regional tirou casquinha em campanha das obras do PAC (BR-408 e Transnordestina, duas obras federais), sem mencionar que eram obras do PAC:

O que me leva à capa da Veja desta semana, a versão brasileira do Yes We Can:

O que me preocupa menos aqui é o suposto plágio. Como dizia Chacrinha, sobre a televisão — e é disso que estamos falando, não de política ou de projetos políticos, mas de uma campanha baseada estritamente na televisão e no marketing — “nada se cria, tudo se copia”.

O que me preocupa é que essa imagem e o slogan “Serra é do bem” (que acompanha o “pode mais” na propaganda de Serra para 2010) só fazem sentido, numa campanha eleitoral, se se pretende apresentar alguém como sendo “do mal”.

Quem seria?

Tema do post final, quando finalmente falarei da soma 2002 + 1989 + 1964.

PS: Deve ser mera coincidência, isso no sábado:

Seguido disso:

E mais isso, na noite de domingo, horário nobre: