Em: Luis Nassif, acesso em: 21/04/2010 às 12 h 34 min.

Por rafaelborges

“Todos podem ver as táticas de minhas conquistas, mas ninguém consegue discernir a estratégia que gerou as vitórias” (A Arte da Guerra – Sun Tzu)

“O Brasil tornou-se importante na comédias das nações, quase sem ninguém perceber” (Financial Times -abril de 2010)

O Brasil inegavelmente se tornou um ator mais relevante no cenário internacional. Muitos creditam isto ao carisma do presidente Lula, à força de nossa economia ou tradição de nossa diplomacia. Os críticos do governo, diriam que o país ganhou relevância apesar das decisões do Itamaraty, ao qual atribuem viés ideológico de esquerda na atualidade.

Nos últimos anos o país se viu envolvido em uma série de delicados episódios e em temas de grandeza absoluta.

O país atuou em conflitos como as greves na Venezuela (o governo brasileiro abasteceu o vizinho de petróleo enfraquecendo a posição dos que exigiam a renúncia de Chavez) a crise em Honduras, a tentativa de divisão da Bolívia e a invasão de tropas colombianas ao território equatoriano. Enfrentou duras disputas comerciais na questão do gás da Bolívia, da energia de Itaipu comprada do Paraguai e das tarifas de importação da Argentina. Notadamente nas disputas com vizinhos o país adotou retórica moderada e negociação “solidária”, recebendo críticas internas de fraqueza nestas situações.

O Brasil também procurou ser ouvido em questões de interesses globais. O combate à pobreza e ao aquecimento global, a promoção da paz no oriente médio e a exaustão do uso da diplomacia com países como o Irã, Cuba e Síria foram bandeiras de nossa diplomacia.

As táticas verde-amarelas na conquista de maior voz são visíveis como pregava Sun Tzu. O país utilizou o prestígio de Lula e a curiosidade internacional sobre o ex-metalúrgico. Adotou discursos supranacionais e inquestionáveis como combate à pobreza e a paz. Posicionou-se como porta-voz não só de nações sulamericanas, mas como de todo mundo em desenvolvimento. Aliou às viagens de comissões diplomáticas comissões empresariais que ajudaram na diversificação dos parceiros comerciais.

Em análises simplificadas, o objetivo brasileiro não está oculto e é quase um fetiche: assumir uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU. Vejo ambições mais complexas e sutilezas no discurso do ministro das relações exteriores, Celso Amorim. Em síntese, enxergo detalhes táticos, mas fico animado ao não discernir a estratégia.

A diplomacia brasileira se move para direita e esquerda como na ginga de um capoeirista. Critica as base americanas na Colômbia, mas fecha um acordo militar com os EUA. Amplia cooperação com o Irã ao tempo em que o faz com a França. Dialogou com Chavez e Bush com igual desenvoltura. A política externa chegou a ser definida como do “arco-íris” pelo Financial Times. Na base desta suposta ambiguidade está, paradoxalmente, a coerência.

A autoridade moral foi o maior cacife do Itamaraty. Para pleitear espaço na ONU o país disponibilizou tropas à entidade no Haiti. Ao buscar anistia de dívidas a países africanos abdicou de crédito que tinha com alguns deles. Recuou em algumas posições para tentar fechar a rodada Doha. Não só abriu mão de ajuda financeira como se dispôs a contribuir com um fundo de ajuda a paísses em desenvolvimento na tentativa de salvar o encontro ecológico de Copenhagen. Na questão de Honduras, ao trombar com a administração Obama, o Brasil estava alinhado à posição da ONU e OEA. Até mesmo na questão nuclear o país tem um discurso coerente alertando para os erros cometidos no Iraque, defendendo que o desarmamento deve alcançar efetivamente grandes potências e, por fim, fazendo sempre a ressalva que a palavra final da ONU será respeitada pelo Brasil.

É a palavra final da ONU o grande castelo que o Brasil pretende assentar em outros alicerces. Em recente sabatina no Senado, o ministro Celso Amorim, em meio a resposta sobre supostos erros de sua atuação destacou duas alianças brasileiras. Fora do contexto, o diplomata deixou escapar que os grupos denominados BASIC (Brasil, África do Sul e Índia e China) e BRIC (este sem África do Sul e com a Rússia) são os grandes saltos estratégicos do país.

O país não conseguirá um papel à altura dos membros permanentes do Conselho de Segurança como gesto de boa vontade dos membros existentes. O mero assento permanente como concessão dos países desenvolvidos traria apenas uma igualdade formal. Sebe também que pouco importa fazer parte de um Conselho se os EUA o ignorar sempre que desejar como fez na guerra do Iraque.

O Brasil trabalha de forma articulada para que a nova ordem econômica se converta em nova ordem política. Os BRIC´s terão cada vez mais peso, mas não adianta medir forças com as potências estabelecidas. Por isso a simpatia da França é importante, assim como é relevante reformar a ONU por dentro. Discurso firme com os EUA é necessário, mas radicalização bolivariana é contraproducente.

O país avança em seus objetivos com acertos e erros táticos. Entretanto, segundo Sun Tzu, suas vitórias são geradas porque sua estratégia não é visível, como atesta a declaração do Financial Times.

por Luiz Carlos Azenha http://www.viomundo.com.br

Se você tem menos de 30 anos de idade hoje, significa que estava por perto dos 10 anos de idade em 1989. Por isso, não viveu a campanha presidencial daquele ano. Escrevo “viveu” no sentido de entender perfeitamente o que se passou à sua volta. Você leu a respeito ou ouviu dizer. Viver é outra coisa.

Antes, porém, vamos à origem deste post. Eu conversava com um colega jornalista a respeito de um texto que publiquei no Viomundo em que narrei minha experiência pessoal nos bastidores da TV Globo, emissora da qual eu era repórter na temporada eleitoral 2005/2006.

O post está aqui, mas eu resumo: descobri, por experiência vivida, que só cabiam denúncias contra o PT ou aliados do PT. Denúncias que batiam em outros partidos e especialmente no então candidato a governador de São Paulo, José Serra, eram menos denúncias.

Esta capa da Veja, por exemplo, mereceu repercussão acrítica na Globo. Ou seja, o Jornal Nacional reproduziu trechos do texto da revista sem confirmar de forma independente o conteúdo. Do ponto-de-vista factual, foi uma reportagem baseada em ilações e suposições. Nenhuma materialidade.

Já esta capa da IstoÉ não mereceu repercussão, acrítica ou crítica.

Na verdade, depois que colegas cobraram isonomia da direção da Globo em São Paulo — tratamento igual para iguais — confirmei de forma independente algumas informações contidas no texto, acrescentei outras e dei um número que, em minha opinião, fez a reportagem ser derrubada (jargão jornalístico para quando um trabalho vai para a gaveta do chefe): entre 2000 e 2004, a Planam comercializou 891 ambulâncias superfaturadas; 681 foram entregues antes do início do governo Lula, ou seja, no período em que José Serra e Barjas Negri eram ministros da Saúde. Isso, em si, não implica Serra, nem Negri diretamente no escândalo.

Mas deixa claro que um escândalo que se pretendia imputar ao governo Lula, para fins eleitorais, antes das eleições de 2006, teve sua gênese no governo de FHC (o mesmo se pode dizer do mensalão e da máfia dos sanguessugas, por exemplo), em ministério liderado por José Serra. Não se tratava de uma ilação ou de uma suposição, mas da verdade factual, registrada em documentos oficiais: 76% das ambulâncias superfaturadas foram entregues pela Planam no período Serra/Negri.

Para ler o que escrevi sobre isso, no meu caderninho de anotações, clique aqui.

Para ver os vídeos que faziam parte do famoso dossiê, clique aqui.

Na mesma campanha, além de viver pessoalmente a experiência das denúncias seletivas ou da repercussão seletiva das capas da revista Veja, eu também vivi o famoso episódio da compra (ou suposta compra) de um dossiê contra José Serra por parte de gente ligada ao PT. Há ainda muitos pontos obscuros sobre o episódio, inclusive sobre a origem do dinheiro.

Vivíamos a disputa entre o presidente Lula e o tucano Geraldo Alckmin quando estourou o escândalo: a apreensão em um motel de São Paulo de dinheiro vivo que seria usado para comprar o dossiê. A apreensão aconteceu no dia 15 de setembro de 2006. Mas as famosas fotos do dinheiro só apareceram na antevéspera do primeiro turno, em 29 de setembro de 2006, vazadas pelo delegado da Polícia Federal Edmilson Bruno, com Lula (lembrem-se, candidato à reeleição) apresentado na Folha de sábado, 30 de setembro de 2006, véspera da eleição, no papel de trombadinha:

Curiosamente, todo o episódio dos aloprados mereceu extensa cobertura da mídia brasileira, com investimento dos melhores recursos disponíveis para esclarecer o que de fato aconteceu. Porém, o vazamento das fotos, em si, não recebeu o mesmo tratamento.

Narro o caso detalhadamente no livro do Viomundo e na versão antiga do site: o vazamento foi feito pelo delegado Edmilson Bruno a um grupo de repórteres. O delegado se comporta como um editor, sugerindo que os repórteres usem o photoshop. O delegado pede que as imagens recebam ampla disseminação. O delegado quer ver as imagens nos telejornais. O delegado informa aos repórteres que pretende mentir a um superior, jogando a culpa em uma faxineira.

No dia seguinte, os jornais publicaram trechos de uma entrevista do delegado Bruno quando muitos repórteres — pelo menos todos aqueles que receberam as fotos — já sabiam que ele estava mentindo. Para além de todas as questões éticas envolvidas no caso, que não pretendo abordar aqui, permanece uma curiosidade. A que “foto da Globo” o delegado se refere quando conversa com os repórteres? Foi feita uma foto especialmente para a Globo divulgar?

Para ver + vídeos sobre o delegado e os jornalistas, clique aqui.

Como vocês, especialmente os jovens jornalistas, já devem ter notado, trata-se de um padrão: a seletividade. Seletividade de capas repercutidas. Seletividade dos denunciados. Seletividade dos ângulos investigados.

Seletividade a serviço de quem?

Mas, depois desta longa digressão, volto àquela conversa que tive com um colega, quando argumentei que 2006 estava de volta.

Ele: Não, vai ser pior, vai ser 1989.

E hoje, ao ler o blog do Evaldo Novelini, me dei conta de que eles (meu colega e o Novelini) têm razão.

Teremos 2006 + 1989.

O que o Novelini fez foi trazer de volta as capas da Veja, sempre ela.

Com medo do Lula (lembrem-se, meninos e meninas, Lula era candidato a presidente em 1989), a Veja ajudou a inventar no cenário político,  em parceria com a TV Globo, o “caçador de marajás” Fernando Collor de Melo. Naquela época, essa era a dupla de ouro da mídia brasileira. O combo Globo + Veja era de fato formador de opinião. Não havia internet. A audiência das emissoras de TV era muito mais alta. Não havia DVD, nem TV a cabo.

Primeiro a Veja fez assim:

Depois, a Veja apresentou a solução (acompanhada, por exemplo, pelo Globo Repórter, que dedicou um programa completo ao governador de Alagoas):

Para ver mais, no blog do Novelini, clique aqui.

Pesquisem, que não pretendo me alongar por aqui:

1989 foi o ano em que Collor acusou Lula de ser dono de um aparelho de som muito sofisticado, injustificável para uma pessoa de origem humilde (não é brincadeira, é sério);

1989 foi o ano em que Collor levou à propaganda eleitoral Miriam Cordeiro, mulher com a qual Lula, viúvo, teve uma filha que reconheceu. Acusação? Lula teria pedido a Miriam que abortasse a criança e teria feito observações racistas em conversas cotidianas. Mas antes de aparecer na propaganda eleitoral de Collor, Miriam Cordeiro fez a denúncia diretamente no Jornal Nacional.

1989 foi o ano em que o jornal O Globo, para justificar o uso de Miriam Cordeiro na campanha eleitoral, produziu editorial em que defendeu parâmetros sobre a transparência na vida pessoal dos políticos que não aplicou mais tarde, quando escondeu durante quase duas décadas o filho de Fernando Henrique Cardoso com uma jornalista da empresa:

O Direito de Saber:

O povo brasileiro não está acostumado a ver desnudar-se a seus olhos a vida particular dos homens públicos.

O povo brasileiro também não está acostumado à prática da Democracia.

A prática da Democracia recomenda que o povo saiba tudo o que for possível saber sobre seus homens públicos, para poder julgar melhor na hora de elegê-los.

Nos Estados Unidos, por exemplo, com freqüência homens públicos vêem truncada a carreira pela revelação de fatos desabonadores do seu comportamento privado. Não raro, a simples divulgação de tais fatos os dissuade de continuarem a pleitear a preferência do eleitor. Um nebuloso acidente de carro em que morreu uma secretária que o acompanhava barrou, provavelmente para sempre, a brilhante caminhada do senador Ted Kennedy para a Casa Branca – para lembrar apenas o mais escandaloso desses tropeços. Coisa parecida aconteceu com o senador Gary Hart; por divulgar-se uma relação que comprometia o seu casamento, ele nem sequer pôde apresentar-se à Convenção do Partido Democrata, na última eleição americana.

Na presente campanha, ninguém negará que, em todo o seu desenrolar, houve uma obsessiva preocupação dos responsáveis pelo programa do horário eleitoral gratuito da Frente Brasil Popular de esquadrinhar o passado do candidato Fernando Collor de Mello. Não apenas a sua atividade anterior em cargos públicos, mas sua infância e adolescência, suas relações de família, seus casamentos, suas amizades. Presume-se que tenham divulgado tudo de que dispunham a respeito.

O adversário vinha agindo de modo diferente. A estratégia dos propagandistas de Collor não incluía a intromissão no passado de Luís Inácio Lula da Silva nem como líder sindical nem muito menos remontou aos seus tempos de operário-torneiro, tão insistentemente lembrados pelo candidato do PT.

Até que anteontem à noite surgiu nas telas, no horário do PRN, a figura da ex-mulher de Lula, Miriam Cordeiro, acusando o candidato de ter tentado induzi-la a abortar uma  criança filha de ambos, para isso oferecendo-lhe dinheiro, e também de alimentar preconceitos contra a raça negra.

A primeira reação do público terá sido de choque, a segunda é a discussão do direito de trazer-se a público o que, quase por toda parte, se classificava imediatamente de ‘baixaria’.

É chocante mesmo, lamentável que o confronto desça a esse nível, mas nem por isso deve-se deixar de perguntar se é verdadeiro. E se for verdadeiro, cabe indagar se o eleitor deve ou não receber um testemunho que concorre para aprofundar o seu conhecimento sobre aquela personalidade que lhe pede o voto para eleger-se Presidente da República, o mais alto posto da Nação.

É de esperar que o debate desta noite não se macule por excessos no confronto democrático, e que se concentre na discussão dos problemas nacionais.

Mas a acusação está no ar. Houve distorção? Ou aconteceu tal como narra a personagem apresentada no vídeo? Não cabe submeter o caso a inquérito. A sensibilidade do eleitor poderá ajudá-lo a discernir onde está a verdade – e se ela deve influenciar-lhe o voto, domingo próximo, quando estiver consultando apenas a sua consciência.

EDITORIAL PUBLICADO EM O GLOBO NO DIA 14 DE DEZEMBRO DE 1989, QUINTA-FEIRA, DATA EM QUE LULA E COLLOR TRAVARAM O DEBATE FINAL ANTES DO SEGUNDO TURNO, EM 17/12/89

1989 foi o ano em que a polícia paulista vestiu uma camisa do PT em um dos sequestradores do empresário Abílio Diniz.

1989 foi o ano em que o então presidente da FIESP, Mário Amato, previu com ampla cobertura midiática que 800 mil empresários brasileiros fugiriam do país se Lula fosse eleito presidente.

1989 foi o ano da famosa edição deturpada do debate entre Lula e Collor, que foi ao ar no Jornal Nacional do dia 15 de dezembro faltando dois dias para o segundo turno, numa época em que o JN marcava mais de 60 pontos de audiência.

Tenho insistido que, mais do que a manipulação do conteúdo editorial, a violação mais flagrante da Globo naquela noite foi a divulgação, logo depois do compacto do debate, de uma pesquisa mostrando que Collor tinha “vencido” por ampla margem. A pesquisa incluiu uma pergunta que não tinha relação direta com o debate: o mais preparado para governar.

O Jornal Nacional omitiu que o Vox Populi, que fez a pesquisa, tinha trabalhado na construção da imagem de Collor.

E  jogou os números no ar assim:

Collor, o mais preparado para governar por 48% a 30%,  faltando apenas dois dias para o segundo turno.

Collor, o mais preparado para governar por 48% a 30%, numa eleição que ele venceu por margem inferior a 6%.

Sobre a edição do compacto, disse Armando Nogueira, em 1989 diretor de Jornalismo da emissora, em gravação incluída no documentário britânico “Beyond Citizen Kane”:

“Eu quando fui ao dono da empresa, protestar contra a exibição do compacto, que foi posto no ar à minha revelia, eu quando fui conversar com o dono da empresa, doutor Roberto Marinho, eu disse a ele — isso foi no dia seguinte à exibição do compacto — eu disse a ele doutor Roberto, eu não vi esse compacto, se eu tivesse visto teria impedido que fosse pro ar e se eu não pudesse ter impedido eu viria aqui ao senhor dizer o que eu vou dizer agora: a Rede Globo foi infeliz, fez uma edição burra, burra, porque não precisava ser burra”.

Vejam o que o Carlos Matheus, do Gallup, comentou a respeito do episódio:

“Havia uma tendencia de aproximação entre os dois candidatos e no dia do debate eles estavam a apenas 1% de diferença; com este… este resumo do debate na sexta-feira a pesquisa do sábado mostrou uma abertura de diferença e no domingo a diferença que era de um ponto apareceu com quatro pontos”.

Confiram no vídeo abaixo um trecho do documentário:

Para ver todo o documentário da TV britânica sobre a Globo, clique aqui.

Portanto, vocês podem notar que desde a redemocratização brasileira já temos uma certa tradição nos chamados “golpes de véspera” (aos quais os estadunidenses se referem como “october surprise”, já que as eleições lá acontecem no início de novembro). Como somos herdeiros do marketing eleitoral desenvolvido nos Estados Unidos, não é de estranhar que isso aconteça.

E a matriz dessa tradição está na seletividade das denúncias, das notícias e dos alvos de investigações.

Na manipulação e na divulgação de pesquisas de opinião.

Num próximo post pretendo explorar melhor essa linha histórica que fará da campanha deste ano 2006 + 1989.

Analisar os paralelos entre Collor e Serra.

E avançar num tema que tem pipocado aqui e ali:

Será que teremos 2006 + 1989 + 1964?

A segunda parte da série está aqui

Por Luiz Carlos Azenha, em http://www.viomundo.com.br

Eu terminei um post anterior, este aqui, prometendo traçar um paralelo entre Collor e Serra.

Não se trata de um paralelo entre as biografias dos dois.

Nem do que ambos fizeram com o poder que alcançaram.

Trata-se de um paralelo entre a conjuntura política que levou Collor a ser quem foi na campanha de 1989, tema do post anterior, e a conjuntura política em que o ex-governador de São Paulo se lançou candidato, em 2010.

Há fatos sobre os quais existe pouca discordância, quase nenhuma: com Geraldo Alckmin eleito governador de São Paulo — se isso de fato acontecer — e Aécio Neves eleito senador por Minas Gerais em 2010 as opções políticas de Serra serão reduzidas. Ou ganha, ou ganha.

Acrescente a isso a idade do candidato, 68 anos, e o fato de que o presidente Lula pode voltar a concorrer em 2014.

Para Serra — em particular — e para as  forças políticas que se reúnem em torno dele, 2010 é a eleição!

Collor, em 1989, satisfez o desejo de renovação da sociedade brasileira. Terminava o governo transitório de José Sarney, o Brasil vivia um momento de inflação galopante, de estagnação econômica, desemprego e impasse na dívida externa. Quanto sofri com colegas jornalistas correndo atrás das equipes de negociação da dívida no Fundo Monetário Internacional, no Banco Mundial, na sede do Tesouro e na sede do Citibank, na avenida Lexington, em Nova York!

Collor introduziu o marketing político nas campanhas eleitorais (para quem está chegando agora, falo da primeira eleição presidencial brasileira depois do regime militar, em 1989).

Collor tirou proveito do pânico dos empresários com a perspectiva de ver Brizola ou Lula no poder.

Na edição em que narrou a vitória dele, a revista Veja escreveu:

“Quando a campanha presidencial teve início, havia um espectro no horizonte chamado Brizola – a possibilidade de um candidato de esquerda populista (Leonel Brizola) ou de esquerda socialista (Luís Inácio Lula da Silva) acabar levando a sucessão. […]

O anti-Brizola, na verdade, era Fernando Collor, candidato no qual a maioria dos políticos prestava a mesma atenção que dispensa ao Estado do qual ele foi governador, Alagoas. Ao longo dos meses seguintes, Collor iria demonstrar que é o mais espetacular caso de self-made man da política brasileira.  […]

Uma das grandes injustiças cometidas contra Fernando Collor de Mello ao longo de toda a campanha presidencial foi o lançamento da teoria de que ele não passava de um produto de laboratório, uma espécie de Cyborg, construído por grandes empresários para vencer o espectro Brizola. É verdade que, na reta final, qualquer dono de empresa com um faturamento capaz de ser contabilizado na casa dos milhões de dólares fechou com Collor – contra Brizola, no início, contra Lula, mais tarde. […]

Depois da votação de 17 de dezembro, constata-se que, se Collor é um candidato criado em laboratório, era ele próprio quem manipulava todos os instrumentos disponíveis. Foi ele quem confeccionou o discurso contra os marajás. Também é de sua iniciativa a postura de ataques ao presidente José Sarney – a quem acusou de estar cercado de assessores corruptos e até assassinos no Planalto. Também é de Collor a atitude antiesquerda nos últimos dias da campanha no segundo rumo. Saiu dos laboratórios do novo presidente, por fim, a nuvem de mal-estar que acompanhou a candidatura de Luís Inácio Lula da Silva nos momentos finais da campanha no segundo turno. […]

Entre o Lula triunfal dos grandes comícios da reta final e o candidato abatido na manhã de 17 de dezembro havia uma diferença de peso. Para o candidato do PT, os últimos dias de campanha foram marcados por uma sucessão de dificuldades. Uma delas consistiu no grande golpe baixo da campanha – o depoimento de sua ex-namorada Mirian Cordeiro, que, conforme denúncias de assessores do PRN, embolsou 200 000 cruzados novos para ir ao horário político de Collor denunciar que o concorrente do PT tentara convencê-la a fazer um aborto para impedir o nascimento de uma filha do casal, Lurian, que hoje tem 15 anos de idade.”

Avancemos, pois, até 2010, quando José Serra representa as forças anti-Lula.

Porém, Lula em 2010 não é o José Sarney de 1989.  A popularidade do presidente da República e de seu governo ronda a casa dos 70%.

Vem daí a necessidade de inventar um novo Cyborg:

Cyborg, o Homem de Seis Milhões de Dólares, foi um seriado extremamente popular que passou na TV Globo nos anos 80. O galã Lee Majors era meio homem, meio máquina, daí a referência da revista Veja a Collor, o Cyborg.

Na conjuntura atual, em que uma comparação de resultados com o governo Lula seria altamente prejudicial a Serra, ele e seus assessores de marketing tentam reinventá-lo como o candidato acidental: ele não tem nada a ver com o trânsito de São Paulo, nada a ver com as enchentes de São Paulo, nada a ver com o tiroteio entre as polícias paulistas, nada a ver com as taxas de homicídio, nada a ver com a crise penitenciária, nada a ver com a greve dos professores, nada a ver com a cratera do metrô, nada a ver com José Roberto Arruda, nada a ver com o fato de que será preciso monitorar os ventos no Rodoanel. Quando eles — os ventos, não os motoristas — decidirem andar a mais de 50 km hora, sai de baixo!

Não faltaram condições para que o governador paulista fizesse uma governo revolucionário em São Paulo, que pudesse ser apresentado agora aos eleitores para se contrapor ao projeto político da ex-ministra Dilma. Como escreveu Luís Nassif, aqui:

“Critiquei inúmeras vezes a oportunidade jogada fora por Serra, de não ter mobilizado o estado de São Paulo em torno de um projeto de desenvolvimento, de inovação das empresas. Tinha-se de tudo no estado: grandes empresas, as melhores universidades, os melhores institutos de pesquisa, as melhores redes de atendimento empresarial, o apoio total da mídia, a melhor infra-estrutura urbana, as melhores cidades médias. Se juntasse todos esses atores, Serra poderia ter montado programas inesquecíveis de capacitação da indústria paulista, dos pequenos e médios empreendedores, poderia ter comandado acordos fundamentais, surfado nas novas ideias, feito uma revolução gerencial, mudado a estrutura de secretariado do governo. Enfim, aqui se teria o laboratório ideal para colocar em prática novas novos conceitos. Só que, em todo seu governo, Serra não soube apresentar uma nova ideia sequer.

Quando estourou a crise global, poderia ter saído na frente de Lula, com medidas próprias do Estado, grandes concentrações de empresários e trabalhadores contra a crise, medidas fiscais etc. Levou cinco meses para receber representantes da indústria. Para tomar as primeiras medidas, foi quase um semestre. A indústria de máquinas e equipamentos registrava 40% de queda nas vendas, e a única coisa que o estado fazia era ampliar a substituição tributária. Para serem recebidos pelo governador, empresários praticamente ameaçaram uma mobilização na frente do Palácio, junto com CUT e Força Sindical.”

Na falta de ideias inovadoras e de uma obra impressionante, para além do rodoviarismo malufista, o que faz um candidato que representa mudança em um quadro de crescimento econômico acelerado, recordes de novos empregos e grande satisfação do eleitorado com um presidente que pretende eleger sua sucessora?

Faz de conta que não representa a mudança. Faz de conta que ele, sim, é o pós-Lula, um slogan que tem a vantagem de servir ao mesmo tempo àqueles que não suportam Lula e aos que não votarão em um candidato “contra Lula”.

Serra se apresenta como o “candidato do bem”, slogan logo apropriado por um internauta para fazer piada:

Sem ideias inovadoras e grandes projetos que possa apresentar para se contrapor às realizações do governo Lula, Serra ficará extremamente dependente dos marqueteiros e de sua aliança com a TV Globo, a Veja e a Folha de S. Paulo.

Primeiro, para ter a segurança de que poderá repetir o padrão que marcou campanhas anteriores do PSDB sem ser desmascarado pela grande mídia.

Campanhas como esta, de 2002:

No anúncio, Serra e o PSDB assumem com exclusividade a paternidade de três ideias que no mínimo deveriam dividir com outros partidos, políticos ou profissionais.

O Plano Real, como se sabe, foi implantado no governo do ex-presidente Itamar Franco, como ele mesmo explica, aqui:

Os genéricos, cuja paternidade o ex-ministro da Saúde José Serra assumiu completamente, pertencem também ao falecido deputado Jamil Haddad, do PSB, conforme ele contou à repórter Conceição Lemes, do Viomundo:

“Serra, pai dos genéricos? PSDB, criador dos genéricos? Assumir como deles é um embuste! Se fizerem isso de novo, eu denuncio”, prometeu há menos de um mês a esta repórter o verdadeiro pai dos genéricos, o médico Jamil Haddad, 83 anos, ex-deputado federal, ex-prefeito do Rio Janeiro e ministro da Saúde de outubro de 1992 a agosto de1993, no governo Itamar Franco. “Em política, a traição é uma norma. Só não se sabe a data.”

Leia o post completo clicando aqui.

E o seguro-desemprego teve sua gênese, na verdade, no governo do ex-presidente José Sarney, do PMDB, em 1986, conforme afirmou o ex-ministro do Trabalho Almir Pazzianotto à revista Veja, durante a campanha eleitoral de 2002:

“Em outdoors, José Serra tem se apresentado como o responsável pelo seguro-desemprego. Não é verdade. “Se o seguro-desemprego tem um pai, é Sarney”, afirmou o ex-ministro do Trabalho de José Sarney Almir Pazzianotto, ex-presidente do Tribunal Superior do Trabalho. O seguro-desemprego foi criado em 1986. Coube a Serra, durante a elaboração da nova Constituição, dois anos depois, criar uma fonte de financiamento estável para o benefício. “O Boeing 747 é muito melhor que o 14 Bis, mas quem inventou o avião foi Santos Dumont”, diz Pazzianotto.”

Mas não foi só. Como mostrou a incansável Conceição Lemes, a repórter de Saúde mais premiada do Brasil, quando a gripe suína ameaçava se transformar em uma hecatombe mundial, o ex-governador viu uma oportunidade de marketing que, quem sabe, ele poderia explorar na campanha eleitoral de 2010 — e tentou se apropriar da paternidade das vacinas:

“Lendo todo o material, distribuído oficialmente, parece que o Estado de São Paulo, com o governador José Serra à frente: 1. arcará com os custos vacinas contra a gripe suína no Brasil; 2. distribuirá as vacinas via Ministério da Saúde (MS); 3. São Paulo será o primeiro a dispor da vacina no país; 4. São Paulo saiu na frente do restante do Brasil, inclusive do próprio Ministério da Saúde.”

Leia como nada disso era verdade, clicando aqui.

Mas o caso clássico, também denunciado pela Conceição, foi a apropriação, por Serra e pelo PSDB,  do projeto de combate à AIDS no Brasil, que surgiu no governo Sarney, passou pelo governo Collor e chegou ao de Fernando Henrique Cardoso. Há consenso de que a bióloga Lair Guerra foi a grande batalhadora do projeto, conforme atestou o ex-ministro da Saúde Adib Jatene, que precedeu Serra no cargo:

“A eficiência com que Lair comandou o setor trouxe as primeiras perspectivas otimistas sobre o controle da doença”, observa Jatene. “Foi sua capacidade de propor, sua coragem de defender e sua eficiência em executar que nos colocaram na direção correta, consolidada por tantos que, com competência e dedicação,mantiveram as ações em crescendo, garantindo, em área tão sensível, o reconhecimento de uma liderança que partiu de Lair.”

Leia o texto completo clicando aqui.

Só a certeza da impunidade diante da mídia permitiria ao PSDB, em 2010, começar sua mobilização com um vídeo em que, mais uma vez, a “revolução” da saúde se baseia num tripé do qual fazem parte os genéricos e o combate à AIDS.

O texto agora fala que Serra “implantou” projetos neste sentido durante sua passagem pelo ministério da Saúde, o que é factualmente correto (curiosamente, a passagem de Serra pelo Ministério do Planejamento nunca é mencionada), mas nessa área o PSDB está longe de ter promovido uma “revolução”.

Como mostramos acima, foram ações que tiveram origem muito antes, que envolveram mais de um partido, outros profissionais de saúde e políticos. Mas o PSDB segue adiante, com a certeza de que escapará ileso de qualquer cerco midiático:

Espero ter estabelecido, com razoável credibilidade, que existe aí um padrão.

Serra e o PSDB, que não assumem seus “erros”, assumem como deles ideias e projetos alheios. Isso só é possível porque contam com a, vamos dizer, “solidariedade’” da grande mídia.

A que outro partido ou político seria permitido fazer o mesmo sem uma barragem de críticas da TV Globo, da Folha e da Veja? Seria um escândalo!

Para os que não ficaram convencidos, vai aí mais um exemplo que vem de cima.

O presidente do PSDB, Sergio Guerra, aquele que em entrevista de alcance nacional à revista Veja prometeu acabar com o PAC, em âmbito regional tirou casquinha em campanha das obras do PAC (BR-408 e Transnordestina, duas obras federais), sem mencionar que eram obras do PAC:

O que me leva à capa da Veja desta semana, a versão brasileira do Yes We Can:

O que me preocupa menos aqui é o suposto plágio. Como dizia Chacrinha, sobre a televisão — e é disso que estamos falando, não de política ou de projetos políticos, mas de uma campanha baseada estritamente na televisão e no marketing — “nada se cria, tudo se copia”.

O que me preocupa é que essa imagem e o slogan “Serra é do bem” (que acompanha o “pode mais” na propaganda de Serra para 2010) só fazem sentido, numa campanha eleitoral, se se pretende apresentar alguém como sendo “do mal”.

Quem seria?

Tema do post final, quando finalmente falarei da soma 2002 + 1989 + 1964.

PS: Deve ser mera coincidência, isso no sábado:

Seguido disso:

E mais isso, na noite de domingo, horário nobre:

Em: http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/emir-sader-por-que-a-folha-mente.html Acesso em: 16/04/2010 às 19h52.

16/04/2010

por Emir Sader, no seu blog

As elites de um país, por definição, consideram que representam os interesses gerais do mesmo. A imprensa, com muito mais razão, porque está selecionando o que considera essencial para fazer passar aos leitores, porque opina diariamente em editoriais – e em matérias editorializadas, que não separam informação de opinião, cada vez mais constantes – sobre temas do país e do mundo.

A FSP, como exemplo típico da elite paulistana, é um jornal que passou a MENTIR abertamente, em particular desde o começo do governo Lula. Tendo se casado com o governo FHC – expressão mais acabada da elite paulistana -, a empresa viveu mal o seu fracasso e a vitória de Lula. Jogou-se inteiramente na operação “mensalão”, desatada por uma entrevista de uma jornalista tucana do jornal, que eles consideravam a causa mortis do governo Lula, da mesma forma que Carlos Lacerda,na Tribuna da Imprensa, se considerava o responsável pela queda do Getúlio.

Só que a história se repetiria como farsa. Conta-se que, numa reunião do comitê de redação da empresa, Otavio Frias Filho – herdeiro da empresa dirigida pelo pai -, assim que Lula ganhou de novo em 2006, dava voltas, histérico, em torno da mesa, gritando “Onde é que nós erramos, onde é que nós erramos”, quando o candidato apoiado pela empresa, Alckmin, foi derrotado.

O jornal entrou, ao longo da década atual, numa profunda crise de identidade, forjada na década anterior, quando FHC apareceu como o representante mor da direita brasileira, foi se isolando e terminou penosamente como o político mais rejeitado do país, substituído pelo sucesso de Lula. Um presidente nordestino, proveniente dos imigrantes, discriminados em São Paulo, apesar de construir grande parte da riqueza do estado de que se apropria a burguesia. Derrotou àquele que, junto com FHC, é o político mais ligado à empresa – Serra -, que sempre que está sem mandato reassume sua coluna no jornal, fala regularmente com a direção da empresa, aponta jornalistas para cargos de direção – como a bem cheirosa jornalista brasiliense, entre outros – e exige que mandem embora outros, que ele considera que não atuam com todo o empenho a seu favor.

O desespero se apoderou da direção do jornal quando constatou não apenas que Lula sobrevivia à crise manipulada pelo jornal, como saía mais forte e se consolidava como o mais importante estadista brasileiro das últimas décadas, relegando a FHC a um lugar de mandatário fracassado. O jornal perdeu o rumo e passou a atuar de forma cada vez mais partidária, perdendo credibilidade e tiragem ano a ano, até chegar à assunção, por parte de uma executiva da empresa, de que são um partido, confissão que não requer comprovações posteriores. Os empregados do jornal, incluídos todos os jornalistas, ficam assim catalogados como militantes de um partido (tucano, óbvio) político, perdendo a eventual inocência que podiam ainda ter. Cada edição do jornal, cada coluna, cada notícia, cada pesquisa cada editorial, ganharam um sentido novo: orientação política para a (debilitada, conforme confissão da executiva) oposição.

Assim, o jornal menos ainda poderia dizer a verdade. Já nunca confessou a verdade sobre a conclamação aberta à ditadura e o apoio ao golpe militar em 1964 – o regime mais antidemocrático que o país já teve -, do que nunca fez uma autocrítica. Menos ainda da empresa ter emprestado seus carros para operações dos órgãos repressivos do regime de terror que a ditadura tinha imposto, para atuar contra opositores. Foi assim acumulando um passado nebuloso, a que acrescentou um presente vergonhoso.

Episódios como o da “ditabranda”, da ficha falsa da Dilma, da acusação de que o governo teria “matado” (sic) os passageiros do avião da TAM, o vergonhoso artigo de mais um ex-esquerdista que o jornal se utiliza contra a esquerda, com baixezas típicas de um renegado, contra o Lula, a manipulação de pesquisas, o silêncio sobre pesquisas que contrariam as suas (os leitores não conhecem até hoje, a pesquisa da Vox Populi, que contraria a da FSP que, como disse um colunista da própria empresa, era o oxigênio que o candidato do jornal precisava, caso contrário o lançamento da sua candidatura seria “um funeral” (sic). Tudo mostra o rabo preso do jornal com as elites decadentes do país, com o epicentro em São Paulo, que lutam desesperadamente para tentar reaver a apropriação do governo e do Estado brasileiros.

Esse desespero e as mentiras do jornal são tanto maiores, quanto mais se aprofunda a diminuição de tiragem e a crise econômica do jornal, que precisa de um presidente que tenha laços carnais com a empresa e teria dificuldades para obter apoios de um governo cuja candidata é a atacada frontalmente todos os dias pelo jornal.

Por isso a FOLHA MENTE, MENTE, MENTE, DESESPERADAMENTE. Mentirá no fim de semana com nova pesquisa, em que tratará de rebater, com cifras manipuladas – por exemplo, como sempre faz, dando um peso desproporcional a São Paulo em relação aos outros estados -, a irresistível ascensão de Dilma, que tratará de esconder até onde possa e demonstrar que o pífio lançamento de Serra o teria catapultado às alturas. Ou bastaria manter a seu candidato na frente, para fortalecer as posições do partido que dirigem.

Mas quem acredita na isenção de uma pesquisa da Databranda, depois de tudo o que jornal fez, faz e fará, disse, diz e dirá, como partido assumido de oposição? Ninguem mais crê na empresa da família Frias, só mesmo os jornalistas-militantes que vivem dos seus salários e os membros da oposição, com a água pelo pescoço, tentando passar a idéia de que ainda poderiam ganhar a eleição.

Alertemos a todos, sobre essa próxima e as próximas mentiras da Folha, partido da oposição, partido das elites paulistas, partido da reação conservadora que quer voltar ao poder no Brasil, para mantê-lo como um país injusto, desigual, que exclui à maioria da sua população e foi governado para um terço e não para os 190 milhoes de habitante.

Por isso a FOLHA MENTE, MENTE, MENTE, DESESPERADAMENTE.

Em: http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=126901&id_secao=1. Acesso em 11 de abril de 2010 – 18h55min.

Num tom abertamente eleitoral, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), promove hoje um megaevento para 5 mil convidados. O mote será a apresentação de um balanço de sua gestão à frente do governo paulista. Serra deixa o governo nesta semana para se candidatar à Presidência da República pelo PSDB. O balanço será recheado de pompa e números, mas dificilmente conseguirá mascarar uma gestão que foi marcada pelo burocratismo, a truculência e a negligência com as áreas sociais.

Um levantamento feito pela bancada do PT na Assembléia Legislativa de São Paulo em outubro do ano passado revela que a administração de Serra conseguiu ser ainda pior que a de seu antecessor Geraldo Alckmin. “A administração do governador (Serra) revela a marca de um programa próprio de aceleração do “crescimento”. Iniciado em janeiro de 2007, o governo Serra acelerou o crescimento da carga tributária cobrada dos contribuintes; das vendas de bens públicos ao setor privado; da terceirização de serviços públicos; da tolerância com os grandes devedores e do calote aos credores de precatórios. Ao mesmo tempo, reduziu a participação dos gastos com Educação, Saúde e Segurança no orçamento estadual”, diz o estudo, embasado em números obtidos junto à própria administração tucana. Leia mais aqui

Decadência econômica

Em artigo publicado nesta terça-feira (30) na Folha de S. Paulo, o economista Marcio Pochmann, presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) revela que “entre 1990 e 2005, o Estado paulista registrou o segundo pior desempenho em termos de dinamismo econômico nacional, somente superando o Rio de Janeiro, último colocado entre os desempenhos das 27 unidades da Federação”.

Segundo Pochmann, atualmente, o Estado paulista responde por menos de um terço da ocupação industrial nacional -na década de 1980, era responsável por mais de dois quintos dos postos de trabalho em manufatura.

“Simultaneamente, concentra significativo contingente de desempregados, com abrigo de um quarto de toda mão de obra excedente do país -há três décadas registrava somente um quinto dos brasileiros sem trabalho. Em consequência, percebe-se a perda de importância relativa no total da ocupação nacional, que decaiu de um quinto para um quarto na virada do século passado para o presente”, relata o economista.

A edição desta quarta-feira (31) do jornal Valor Econômico confirma a decadência econômica de São Paulo ao revelar que a participação da região Nordeste no comércio de varejo cresceu três pontos nos últimos doze meses, diminuindo fatias de SP e do Sul.

Um balanço paralelo feito pelo jornal em relação aos três anos e três meses de administração do governador José Serra mostra que o tucano aumentou a arrecadação tributária, intensificou a privatização, aumentou o endivididamento do estado, produziu avanços apenas tímidos na educação e, na área de segurança pública, assiste a um aumento na taxa de homicídios.

Obras viárias e nada mais

O pouco que o governador José Serra tem a mostrar de realizações para os eleitores são algumas obras viárias, cujos projetos já tinham sido iniciados em gestões anteriores, como o Rodoanel e a expansão das linhas do Metrô.

Para financiar as obras de infraestrutura, Serra ampliou as operações de crédito e aumentou o endividamento de São Paulo. Nesta semana, o governo federal ampliou a capacidade de endividamento do Estado em R$ 3,3 bilhões. Com a medida, o limite de empréstimos salta de R$ 11,6 bilhões para R$ 14,9 bilhões. Os recursos devem ir para a construção do trecho Norte do Rodoanel e para construção de um veículo leve sobre trilhos.

O foco dos investimentos é a área de Transportes. A previsão deste ano é que o governo gaste 56% do total de investimentos com transporte. Ao mesmo tempo, os gastos com pessoal e encargos sociais foram drasticamente reduzidos. Em 2007, os gastos correspondiam a 38,19% do total de despesas. Em 2009, reduziu esse percentual a 32,53%. A redução de gastos nestas áreas costuma vir acompanhada de queda na qualidade dos serviços públicos.

Mesmo com tanto dinheiro gasto em obras viárias, Serra deixa o governo sem ter inaugurado oficialmente duas grandes obras que eram esperadas para marcar o fim de sua gestão: o Trecho Sul do Rodoanel e as estações do Metrô da Linha 4 (Amarela). O trecho do Rodoanel atrasou mais de dois anos e as obras do Metrô foram marcadas por acidentes e falhas no projeto que comprometeram a agenda de inaugurações.

Outro constrangimento recente enfrentado pelo governador foi a falta de iniciativa para enfrentar os graves problemas causados pelas enchentes em São Paulo.

Dezenas de CPIs engavetadas

Apesar do fiasco comprovado em números, as sucessivas gestões tucanas em São Paulo (o PSDB governa o Estado desde 1995) conseguem manter o verniz de “competência” e “modernidade” graças a dois fatores muito palpáveis: a proteção da mídia paulista que está sempre pronta para enaltecer os tucanos e esconder os problemas que emanam do Palácio dos Bandeirantes; e a blindagem feita pela maioria governista na Assembléia Legislativa de São Paulo (Alesp). Dominada por parlamentares conservadores alinhados com o tucanato, a Alesp já providenciou o engavetamento de mais de seis dezenas de CPIs que buscavam investigar desde suspeitas de crimes de corrupção envolvendo autoridades do executivo paulista até problemas de gestão em setores como educação e saúde.

Falta de diálogo com os trabalhadores

Mas a pá de cal nesta administração sem brilho é, sem dúvida, o fato de Serra renunciar ao governo deixando nas mãos de seu vice. Albero Goldman, um estado com três categorias do funcionalismo em greve: os professores, servidores da saúde e agentes penitenciários.

Durante toda sua gestão, Serra recusou-se a negociar com os sindicatos que representam os funcionários públicos do Estado. Em 2008, um grave confronto entre policiais militares e policias civis em greve expôs o modo tucano de lidar com as reivindicações do funcionalismo.

Matéria postada hoje no site da Agência Carta Maior detalha a relação de Serra com os servidores comparando a gestão tucana de São Paulo com o governo da também tucana Yeda Crusius no Rio Grande do Sul. “Integram essas táticas, entre outras, duas medidas básicas: reprimir violentamente protestos e manifestações de ruas e infiltrar policiais a paisana nestes protestos e manifestações”, diz a matéria. Leia mais aqui

Serra já confirmou que lançará sua candidatura ao Palácio do Planalto no começo de abril. Segundo o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), o lançamento da candidatura será no dia 10 de abril, em Brasília.

Da redação,
Cláudio Gonzalez,
com agências